Análises semanais do setor da construção civil, engenharia, arquitetura e decoração, com especialistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-ES), Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo (CAU-ES), e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-ES).

Amazônia de pedra: as ilhas de calor que se formam nas cidades

O país precisa cuidar melhor de suas cidades, para que não virem florestas de concreto, pois o excesso de construções acarretam o aumento da temperatura nas regiões

Vitória
Publicado em 16/02/2023 às 12h09
Cidade verde
É preciso criar políticas públicas com planos e metas de tornar nossas cidades mais sustentáveis, verdes e com baixa emissão de carbono . Crédito: Shutterstock

*Heliomar Venancio

A importância da Floresta Amazônica para o Brasil e o mundo coloca nosso país no centro geopolítico global de debates sobre a proteção do meio ambiente. Pois sua grandiosidade e diversidade de flora e fauna, aliadas aos seus fantásticos mananciais hídricos que representam 12% de toda água doce do planeta, fazem com que esta região seja o ponto focal de muitas conferências e aflorados debates aqui, em nosso país, e mundo afora.

Em recente viagem ao estado do Amazonas, representando o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES) no Fórum da Amazônia, pude ver de perto a exuberância da floresta e seus rios que são avenidas e ruas para deslocamento dos povos ribeirinhos. E também me informar um pouco sobre o fenômeno dos rios voadores, que foram descobertos recentemente por cientistas, e que são verdadeiros mananciais de água doce provenientes da evapotranspiração das árvores, que permanecem na atmosfera em forma de umidade e se deslocam para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, provando a importância deste bioma para o equilíbrio climático das regiões.

A grandiosidade deste debate que envolve a Amazônia atualmente tem ofuscado, em parte, outro importante tema que é a qualidade ambiental de nossas cidades e suas ilhas de calor.

O país precisa cuidar melhor de suas cidades para que não virem florestas de concreto ou Amazônia de Pedra, pois o excesso de construções no tecido urbano, próximas umas das outras, sem qualidade construtiva, baixíssima ventilação natural e construídas com materiais não sustentáveis, criam verdadeiras ilhas de calor. Isso promove aumento da temperatura nos ambientes habitáveis e ruas, que viram verdadeiros rios em épocas de chuva, por falta de solo permeável para que as águas pluviais infiltrem. Sem contar na grande emissão de CO2.

Já era tempo de governo e Congresso se debruçarem em ações para criar políticas públicas com planos e metas de tornar nossas cidades mais sustentáveis, verdes e com baixa emissão de carbono.

A recente retirada dos subsídios das instalações de energia solar, foi uma “bola fora” e pegou em cheio um setor energético do bem que estava em expansão e que poderia chegar com velocidade às classes menos favorecidas, multiplicando as placas fotovoltaicas nos telhados brasileiros.

São necessários estudos e políticas com leis incentivadoras para o reuso de águas, aproveitamento de resíduos, e incentivos a materiais ecologicamente corretos, dentre outras ações, seguindo uma linha sustentável para melhoria da qualidade de vida da população e preservação ambiental.

A soma da sociedade civil com cientistas e técnicos, aliados à vontade política de nossos gestores pode ser a “mola propulsora” para cidades mais sustentáveis, igualando este debate com a justa importância ao que a nossa Amazônia tem tido.

Legislação, incentivos fiscais e fiscalização podem ajudar a evoluir e popularizar diversos materiais e tecnologias amigas da natureza para as construções de Arquitetura e Urbanismo, para tornar nossas cidades mais verdes.

*Heliomar Venancio é mestre em Arquitetura e Cidades e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES)

A arquitetura e o mercado imobiliário
Heliomar Venancio: “Legislação, incentivos fiscais e fiscalização podem ajudar a evoluir e popularizar diversos materiais e tecnologias amigas da natureza para as construções” . Crédito: CAU/Divulgação

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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