*Priscila Ceolin
O transporte hidroviário no Espírito Santo tem uma história que remonta ao século XVI, quando os catraieiros transportavam pessoas e mercadorias do Centro de Vitória à Vila Velha. O transporte aquaviário público, por sua vez, foi criado em 1978 e chegou a transportar cerca de 5 milhões de passageiros por ano.
Muitos capixabas têm boas lembranças do antigo aquaviário, que permitia pegar a barca no píer do Terminal Dom Bosco e desembarcar na Prainha, sem enfrentar trânsito e curtindo a brisa marítima.
No entanto, o sistema foi negligenciado e esquecido com a construção de novas pontes que conectavam a ilha ao continente, e o avanço do transporte rodoviário. Atualmente, o sistema aquaviário público está prestes a ser retomado, mas há quem esteja cético por lembrar que, ao final da sua operação anterior, ele estava caindo em desuso e a população estava migrando para o Sistema Rodoviário Transcol ou buscando carros particulares.
Havia reclamações sobre a segurança dos píeres e embarcações, além da falta de integração com o sistema de ônibus. No entanto, agora existem legislações mais severas e fiscalização rigorosa da Marinha do Brasil, tornando as embarcações mais seguras.
Além disso, é necessário que haja conexão com uma rede intermodal, em termos de capacidade, frequência e inserção dos terminais na malha urbana, ou seja, não basta existir, é necessário integração a uma política metropolitana de mobilidade urbana, acessível, democrática, confortável e com pontualidade.
A promessa para esse modal é que ele seja conectado ao sistema Transcol, inclusive utilizando a mesma tarifa. Existe também a possibilidade de levar bicicletas, e as pessoas não serão transportadas em pé.
Além disso, há o compromisso com a acessibilidade, que esperamos contemplar toda a diversidade humana, desde cadeirantes à obesos, crianças, idosos, gestantes, entre outros.
Os terminais serão poucos por ora, apenas quatro, mas espera-se que, com o sucesso do projeto, e a implementação das estratégias aqui pontuadas para um transporte de qualidade, a população adote o modal cada vez mais, o que mostrará a necessidade de licitação de novos terminais.
Viver em uma ilha e nas proximidades do mar é um privilégio, e o transporte público aquaviário pode trazer muitos benefícios à população, com a melhoria da qualidade de vida decorrente de um transporte mais adequado e eficiente.
O uso desse modal poderá devolver à população a boa relação que historicamente ela sempre teve com o mar e com o transporte hidroviário. Afinal, uma cidade evoluída é aquela em que todos usam transportes públicos e modais ativos (não motorizados), desde os mais pobres até os mais ricos.
* Priscila Ceolin é arquiteta e urbanista, pós graduada em Direito Urbanístico e Ambiental Conselheira do CAU/ES
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