
Vitória tem liderado os rankings de calor no país, com temperaturas acima dos 37°C e sensação térmica ainda maior. Estudos evidenciam esse impacto ao apontar que as escolas na capital podem ser até 3,5°C mais quentes do que a temperatura externa, afetando diretamente o aprendizado. Diante disso, a arquitetura precisa assumir um papel central na adaptação das cidades para um futuro mais quente.
Construir para o calor extremo exige redesenhar os espaços urbanos. O investimento em infraestrutura verde pode reduzir a temperatura em até 5°C, melhorar a qualidade do ar e proporcionar maior conforto térmico. A adoção de estratégias de arborização focadas em trajetos escolares, por exemplo, pode contribuir para a redução da temperatura nas salas de aula.
O projeto arquitetônico deve considerar o entorno, mapear as possibilidades e características do local e ter como aliados a ventilação cruzada e o sombreamento com vegetação, além do uso de técnicas tradicionais como brises e cobogós, que limitam a passagem do sol, mas permitem a troca de ar.
A adaptação ao calor, porém, não pode ser um privilégio de poucos. O impacto do aquecimento urbano é mais severo nos bairros de baixa renda, onde há menos áreas verdes e mais superfícies impermeáveis. Nessas regiões, o calor intenso não é apenas uma questão de desconforto, mas um risco real à saúde pública.
A arquitetura pode ajudar a equilibrar essa desigualdade, incentivando projetos que garantam acesso a soluções térmicas eficientes para toda a população. O reuso adaptativo de edificações, a renaturalização de rios urbanos e o planejamento de transportes coletivos energicamente eficientes são medidas que contribuem para cidades mais resilientes e habitáveis.
Ampliando esse debate, a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo deste ano trará como tema os "Extremos", buscando explorar alternativas para adaptar o habitat humano às novas condições climáticas. A proposta combina ciência climática e saberes tradicionais, reforçando que a solução para um mundo mais quente não está apenas na tecnologia, mas também na conexão com práticas ancestrais de convivência com o clima.
Com as mudanças climáticas se intensificando, a arquitetura do futuro precisará ser inovadora e acessível. Não basta construir para resistir ao calor; é necessário projetar espaços que promovam qualidade de vida e bem-estar para todos. Afinal, o desafio do clima extremo já é uma realidade – e a arquitetura tem o dever de ser parte da solução.
André Lima

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