Análises semanais do setor da construção civil, engenharia, arquitetura e decoração, com especialistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-ES), Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo (CAU-ES), e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-ES).

Aterros mudaram o perfil de Vitória, que hoje é uma “cidade-porto”

Na década de 1950 os aterros criaram o novo Porto de Vitória e também agregaram uma área de quase 100 mil metros quadrados ao Centro, a “Esplanada Capixaba”

Vitória
Publicado em 27/10/2022 às 01h58
Atualizado em 27/10/2022 às 01h58
Aterros mudaram o perfil de Vitória, que hoje é uma “cidade-porto
Porto de Vitória em 1985: aterros agregaram área de quase 100 mil metros quadrados ao Centro. Crédito: José A. Magnago/Arquivo Gazeta

*Edezio Caldeira Filho

Quem não conhece a história da evolução urbana de Vitória, certamente se surpreende ao saber das grandes transformações que ocorreram na cidade nos últimos 100 anos.

No alvorecer do século XX, a cidade de Vitória ainda mantinha muitas das características do período colonial: a divisão em cidade alta e baixa, o casario de estilo português, as ladeiras íngremes e as ruas muito estreitas e sinuosas, pavimentadas com pedras rústicas.

A partir da década de 1920, Vitória passou por mudanças radicais em sua estrutura urbana. Muitas de suas ruas foram alargadas e retificadas, as escadarias antigas foram reformadas e o velho casario foi demolido, cedendo lugar para construções novas que seguiam a estética das intervenções urbanas que ocorriam no Rio de Janeiro, a então capital federal.

Aterros mudaram o perfil de Vitória, que hoje é uma “cidade-porto
Avenida Jerônimo Monteiro em 1981: nova avenida ficou mais larga e retilínea. Crédito: Gildo Loyola/Arquivo Gazeta

De lá para cá, Vitória seguiu com a sua própria dinâmica de transformações. Depois de inaugurada a nova avenida Jerônimo Monteiro, larga e retilínea, ladeada por edifícios de arquitetura eclética, os aterros continuaram avançando sobre áreas até então ocupadas pelo mar.

Na década de 1950 os aterros criaram o novo Porto de Vitória e também agregaram uma área de quase 100 mil metros quadrados ao Centro, a “Esplanada Capixaba”. Esses aterros mudaram definitivamente o perfil de “cidade-cais” para “cidade-porto”. De lá para cá, começamos a dar as costas para o mar.

Antes desses últimos grandes aterros serem incorporados à malha urbana do Centro, as casas comerciais e os armazéns da avenida Jerônimo Monteiro tinham acesso direto ao mar pelos fundos das construções, tal como acontecia no Mercado da Capixaba, que dispunha de uma estrutura de cais no local por onde hoje passa a avenida Princesa Isabel. O mar estava bem mais próximo de quem transitava pela cidade remodelada, atingindo os limites do Teatro Glória e da Praça Oito, passando próximo à escadaria do Palácio Anchieta.

Desde a conclusão desses aterros e a efetiva ocupação dos terrenos ocorrida nos anos 1970 e 1980 por edifícios de estilo modernista, as mudanças nessa parte da cidade se limitaram aos ajustes necessários para receber o trânsito de passagem da Região Metropolitana, que contribuiu de forma significativa para a degradação dos espaços do Centro.

Há poucos meses, um dos galpões do Porto de Vitória, localizado bem em frente à Praça Oito, foi demolido. A administração portuária retirou os tapumes do gradil e liberou uma vista da baía que esteve obstruída por mais de meio século.

Recentemente a Prefeitura de Vitória anunciou que a avenida Beira Mar deverá passar por obras de reurbanização com vistas a “qualificar essa borda de água”. Um dos objetivos do projeto é conectar a ciclovia existente com o Porto de Vitória.

Aterros mudaram o perfil de Vitória, que hoje é uma “cidade-porto
Vista áerea da baía e do centro de Vitória . Crédito: Arquivo Gazeta

Parece que depois de tanto tempo dando as costas para o mar, nós estamos redescobrindo o potencial paisagístico e turístico da baía e incentivando como alternativa sustentável o transporte cicloviário, que poderá contribuir muito com os esforços de revitalização do Centro.

*Edezio Caldeira Filho é arquiteto e urbanista, pós-graduado em Gestão de Cidades, e conselheiro do CAU/ES.

 Aterros mudaram o perfil de Vitória, que hoje é uma “cidade-porto”
Edezio Caldeira Filho: "Depois de tanto tempo dando as costas para o mar, nós estamos redescobrindo o potencial paisagístico e turístico da baía". Crédito: Camilla Baptistin/CAU/ES

A Gazeta integra o

Saiba mais
Centro de Vitória Porto de Vitória arquitetura Desenvolvimento Sustentável Urbanismo

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.