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Como o pós-pandemia possibilitou repensar a nossa casa

A imposição de nos mantermos isolados e, muitas vezes, longe do local de trabalho, nos trouxe um novo olhar para o lugar em que vivemos

Vitória
Publicado em 08/12/2022 às 01h58
Atualizado em 08/12/2022 às 01h58
Artigo CAU: Como o pós-pandemia possibilitou repensar a nossa casa
O lar foi intitulado um santuário de bem-estar físico, mental e espiritual. Crédito: Freepik

*Jane Cellia de Aguiar

Como boa parte dos capixabas, sou descendente de imigrantes europeus, mais precisamente, meus bisavós vieram da região de Campânia, na Itália. E, justamente, dessa origem, eu ouvia um termo que sempre me chamava a atenção: “dolce far niente”, que expressa o ócio prazeroso e relaxante e que numa tradução livre, nada mais é do que “o doce fazer nada”.

De modo geral, temos convicção de que o ócio nega o trabalho e estarmos ociosos nos deixa desconfortáveis.

Então, tente passar um dia sem fazer nada!

Talvez, isso agora já não seja tão absurdo, mas há pouco tempo atrás, era algo inadmissível moralmente e insustentável financeiramente.

Até que, sem qualquer aviso, vivemos a pandemia, e do dia para noite fomos obrigados a rever conceitos e valores. Nos vimos em um lugar de reflexão, diferente do que estava acostumada a sociedade competitiva, onde o consumo exagerado fazia parte do indivíduo.

A imposição de nos mantermos isolados e, muitas vezes, longe do local de trabalho, apesar de desafiadora tarefa, nos trouxe um novo olhar para o lugar que vivemos, para nossas casas.

O ressignificar tornou-se comum. Começamos a enxergar as nossas casas bem mais do que apenas um “lugar pra dormir”. E esse nosso lar foi intitulado um santuário de bem-estar físico, mental e espiritual.

As casas passaram a ter vida, gente, cuidado, a planta para regar, cheiro de bolo vindo da cozinha, o canto pra trabalhar e ao mesmo tempo estar com a família. E até uma tarefa doméstica simples parecia nova e nunca vista antes.

A declaração de estado de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e a decisão pelo isolamento social da população impactou em situações que envolveram tanto o meio ambiente, com a queda sensível dos índices de CO2 e dos gases de efeito estufa, quanto no relacionamento do próprio indivíduo com o lugar onde vive e se relaciona.

Provavelmente, a pandemia não foi suficiente para romper o paradigma de degradação da Natureza, ou o consumo exagerado, ou o imediatismo que esta geração carrega. Mas tivemos a oportunidade de estar “nesse lugar” de sentir, nesse lugar de não fazer, nesse lugar longe da impessoalidade.

E talvez, agora, e sempre que possível, voltar para esse lugar de lembranças de algo ou alguém, com significado, com infinitos sentimentos particulares, sem julgamento de ser feio ou bonito, ter estilo ou ser simplesmente acolhedor.

O ambiente carrega histórias, e o coração aquecido valoriza isso de forma única.

O simples se torna especial.

Mesmo tendo passado alguns meses do isolamento social e a vida quase voltando ao ritmo normal, eu ainda consigo perceber essa mudança e essa vontade de valorizar os sentimentos e de aguçar os sentidos.

Acredito que, por ser arquiteta e estar sempre atenta à forma de viver das pessoas, eu consiga perceber tudo isso com intensidade.

E talvez ainda não saibamos onde isso tudo vai dar. E que o descobrir pelo caminho, seja uma possibilidade.

Mas, uma coisa não se pode negar: a casa tem alma!

*Jane Cellia de Aguiar é arquiteta e urbanista e conselheira do CAU/ES.

Artigo CAU: Como o pós-pandemia possibilitou repensar a nossa casa
Jane Céllia de Aguiar: “Começamos a enxergar as nossas casas bem mais do que apenas um ‘lugar pra dormir’”. Crédito: Camilla Baptistin/CAU/ES

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