
Em um mundo onde a velocidade parece ser a prioridade absoluta, a tecnologia BIM (Building Information Modeling) tem sido apresentada como uma solução revolucionária para os desafios da construção civil. Com a promessa de maior eficiência, redução de desperdícios e agilidade na execução, a aplicação deste recurso tem ganhado cada vez mais força no setor.
No entanto, é fundamental ficar claro que, por si só, o BIM não é a solução definitiva dos desafios do setor. Seu real impacto depende, sobretudo, de um planejamento bem estruturado e de profissionais capacitados para utilizá-lo de forma estratégica.
Comumente, somos impactados por imagens e vídeos de construções erguidas em tempo recorde, utilizando ferramentas tecnológicas sofisticadas. O que muitas vezes não aparece é o tempo investido nos bastidores, em escritórios onde equipes inteiras modelam e planejam cada detalhe antes que a obra saia do papel.
Em muitos casos, a elaboração do projeto e o planejamento podem demandar mais tempo do que a execução propriamente dita. Esse processo, essencial para garantir a qualidade e a eficiência prometidas pelo BIM, nem sempre é compreendido ou valorizado.
No Brasil, a implementação da tecnologia BIM encontra desafios específicos. Por aqui, o segmento da construção civil ainda é amplamente dominado por métodos tradicionais e a cultura do setor tende a privilegiar a rapidez da obra em detrimento da etapa de planejamento.
É comum que profissionais sejam pressionados por prazos curtos, que comprometem uma implementação adequada das potencialidades dessa tecnologia e, em última instância, uma execução mais eficiente de uma obra. O BIM não é uma ferramenta autônoma capaz de substituir arquitetos e engenheiros, pelo contrário, ele exige a atuação de profissionais cada vez mais especialistas.
Essa realidade levanta uma reflexão sobre a forma como a tecnologia tem sido utilizada. Projetos bem concebidos envolvem discussões aprofundadas sobre o escopo, análises de fluxo, visitas técnicas, estudos ambientais, dentre outros. No entanto, há uma tendência crescente de reduzir esses processos a imagens esteticamente agradáveis, muitas vezes apresentadas como projetos executivos finalizados. Essa simplificação pode comprometer a qualidade das construções e reforçar a ideia equivocada de que o planejamento é dispensável.
A mudança desse cenário passa pelo reconhecimento da importância dos profissionais qualificados e pela valorização das etapas de planejamento e concepção. A adoção do BIM deve ser acompanhada de um compromisso real com boas práticas de projeto por parte da iniciativa privada e pública, garantindo que a tecnologia seja de fato uma aliada na construção de edifícios mais eficientes, sustentáveis e bem executados.
Luiza Brunelli Coura

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