*João Marcelo de Souza Moreira
Recentemente o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/ES), com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/ES), organizou um concurso fotográfico aberto à participação de arquitetos e urbanistas entusiastas dessa arte. O objetivo do concurso é gerar imagens de equipamentos urbanos e mostrar como eles se inserem no contexto da cidade, para posteriormente apresentar essas imagens em uma exposição. O local escolhido foi nada menos que o Cais das Artes e a decisão não poderia ter sido mais acertada.
Como parte do corpo de jurados, participei da visita técnica junto aos inscritos do concurso e pude apreciar e imaginar tudo o que aquela edificação vai trazer para a população do nosso Estado. Fui com meu olhar de fotógrafo para perceber as nuances de luz e sombra do local, mas foi a minha sensibilidade de arquiteto que me permitiu vislumbrar a espantosa qualidade do conjunto edificado e a genialidade do arquiteto que o concebeu.
Falo de Paulo Mendes da Rocha, vencedor do prêmio Pritzker - o maior da arquitetura mundial. Nascido na cidade de Vitória, Paulo Mendes concebeu o projeto do Cais das Artes como sendo “um confronto entre construção e natureza”.
Durante a visita pude constatar que por trás dos tapumes, que impedem a visão do conjunto, o edifício principal (museu), de formato horizontal, está suspenso do solo e permite uma total integração com a paisagem. Sua forma cria um espaço de convívio, que emoldura a vista das montanhas e destaca o Convento da Penha ao fundo. Um espaço que vai respirar cultura e entretenimento e onde poderemos apreciar o ir e vir de navios e ter um contato maior com o mar.
Ao percorrer os amplos espaços da obra inacabada não é difícil imaginar a grande quantidade de pessoas circulando e apreciando os primorosos espetáculos e exibições artísticas que o espaço poderá abrigar. Hoje eu tenho a convicção de que o Espírito Santo se tornará rota obrigatória de visitação não só de brasileiros, mas de gente de toda parte, pois não faltarão turistas querendo frequentar um local tão peculiar e agradável.
Digo isso, baseado no sucesso de outros equipamentos culturais, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro e o Guggenheim de Bilbao, na Espanha, entre outros, que trouxeram um enorme desenvolvimento urbano e imobiliário em seus entornos.
A população capixaba, impedida que está de conhecer de perto o potencial do conjunto projetado, tem criticado negativamente a construção do Cais das Artes. Já foi sugerido que fossem dados outros usos ao empreendimento e cogitou-se até que o mesmo fosse demolido.
Como arquiteto e urbanista, acredito fortemente que não podemos perder a oportunidade de ter um espaço cultural como esse em nosso Estado. Vejo a conclusão do Cais das Artes como uma dívida à memória de Paulo Mendes da Rocha, que deve ser honrada e, principalmente, como um grande presente que pode e deve ser entregue aos capixabas de hoje e das próximas gerações.
*João Marcelo de Souza Moreira é arquiteto e urbanista, fotógrafo, pós-graduado em Gestão de Obras e Projetos e conselheiro do CAU/ES.
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