*Leandro Lorenzon
Muito se tem dito sobre os novos modos de vida, especialmente das gerações mais jovens, no que tange a sua relação com bens móveis e imóveis. O pensamento em geral diz que essas gerações não têm mais interesse em ter a propriedade desses bens, mas sim o direito de consumi-los e substituí-los a qualquer momento. Esta é a chamada geração light asset.
Bem, é razoável olharmos a vida como uma sucessão de fases, e cada um desses momentos geram desejos e necessidades específicos.
Quando falamos de uma geração jovem, atualmente entre os 18 e 25 anos, que estejam estudando ou trabalhando, constatamos que ainda vivem uma série de indecisões sobre o seu futuro, como quais profissões serão as mais remuneradas, se vão tentar estudar ou trabalhar em outro local do país ou mesmo no exterior, ou se vão buscar um relacionamento estável, pensando em um futuro casamento. O fato é que, neste momento, a maioria pode se dar ao privilégio da dúvida e experimentação, pois ainda vivem parcial ou integralmente sobre a tutela financeira dos pais.
Essas incertezas explicam bastante as razões desses jovens não terem interesses por propriedade de bens, especialmente imóveis, haja vista que esses bens mobilizam dinheiro e também “fixam” as pessoas em determinado local. Isso pode ser um grande inibidor dos desejos de mobilidade global tão preconizados atualmente.
Mas temos também que olhar esse comportamento com outra perspectiva. A compra de um imóvel é uma reserva forçada de valor, que constitui no longo prazo um ativo protegido da inflação, sendo na maioria quase absoluta das vezes o maior patrimônio das famílias e que garante uma sobrevivência mais estável ao longo de inevitáveis ciclos econômicos.
Morando em uma casa própria, não ficamos sujeitos aos ciclos de preços do mercado de locação, ou mesmo eventuais devoluções do imóvel, e também retemos todos os investimentos que fazemos no imóvel próprio.
Outro ponto é que o imóvel próprio permite criar uma maior identidade com a localidade em que você vive e, por consequência, agir no sentido de preservá-la e valorizá-la, melhorando a qualidade de vida de todos.
Acredito, portanto, que essa geração de jovens não seja necessariamente desvinculada da necessidade de propriedade, mas sim esteja apenas passando por uma fase de incerteza, muito potencializada pelas velozes mudanças das relações de trabalho, tecnologias e imprevisibilidade do futuro, para posteriormente decidirem aonde irão criar suas raízes, aprofundar seus laços sociais, constituir família e manter seu patrimônio resguardado.
A regalia de ter pais mantenedores acaba e a idade de máxima produtividade e desprendimento também termina, tendo o ser humano a tendência natural de garantir suas necessidades básicas, sejam fisiológicas, sejam emocionais.
*Leandro Lorenzon é vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES)
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