“Frango ou massa?” perguntava o comissário de bordo à moça sentada ao meu lado. Ela deu um risinho e respondeu “frango, é claro!”. Eu estava ali, concentrada, esperando meu calmante fazer efeito, mas o pânico de voar foi desviado por uma questão um tanto mais importante: quando foi que aquele delicioso bololô de trigo e ovo se tornou ruim? Divaguei, por um tempo, com certa raiva daquela moça de silhueta “nem lá, nem cá”. Queria pedir o macarrão, como prova da minha rebeldia, mas não consigo comer comida de avião. Primeiro porque não é boa, segundo porque tenho MUITO MEDO de voar. Mas não me privei de pensar que, definitivamente, em todos os cenários possíveis, uma massa dentro de um avião seria uma escolha um pouco menos arriscada do que... peito de frango ao curry? O cheiro não deixava dúvidas. Era frango ao curry.
Segui divagando. Pensei nas massas do mundo e como elas se sentiriam ofendidas se ouvissem a risadinha da mulher. Pensei na maravilhosa Nigella e suas receitas deliciosas. Pensei na nonna. Pensei o quão sem graça seria aquela macarronada de domingo fosse ela feita com macarrão sem glúten. Calmante fez efeito, dormi, pousamos.
Hoje, 25 de outubro, é o Dia Mundial do Macarrão. Essa data importantíssima foi criada em 1995 no 1º Congresso Mundial de Pasta, que aconteceu em Roma. Trata-se, entretanto, de uma homenagem tardia: o alimento, criado pelos chineses, existe há mais de sete mil anos e é uma das preparações mais versáteis da cozinha mundial AND da cozinha caseira-afetiva-intuitiva-improvisada.
Milhares de anos nas mesas e, de uma hora para outra, não presta mais. Mas olha que engraçado... A mocinha que vira a cara pra macarronada da vovó é a mesma que cozinha um miojinho apressado, na correria do dia a dia. “É que eu precisava de alguma coisa rápida!”
Meu bem, você sabe cozinhar macarrão?
Aquele ragu italiano cozido por horas na panela, o molho de tomates bem reduzido, aquela massa fresca descansada – isso é slow food da mais alta qualidade. Mas não é o único jeito de tornar uma macarronada memorável. Ouso dizer, aliás, que com o nosso clima tropical orna mais uma massa seca al dente, com um refogado rico e colorido, do que massas embebidas em molhos encorpados. Com isso, pasme: você tem uma refeição completa, rápida e SAUDÁVEL SIM.
- Algumas coisas que você precisa MESMO considerar ao cozinhar uma massa:
- Nunca, nunquinha mesmo, coloque óleo na água do cozimento do macarrão. Nem lave.
- Cozinhe o macarrão em água fervente abundante na hora de servir e leve direto ao molho, depois que escorrer um pouco.
- Caso você esteja com pressa, cozinhe até a massa ficar al dente e mantenha a água quente no fogão (a mesma do cozimento da massa). Na hora de servir, dê apenas um choque com a água quente. Isso vai fazer com que ela fique soltinha novamente. Ou misture bem a massa no molho. À medida que ela for esquentando junto com o caldo, também tende a soltar.
- Salgue a água do macarrão sem dó, depois que ela levantar fervura. Ela tem que ter o gosto da água do mar.
- Se tiver dúvida sobre o tempo de cozimento, siga o tempo indicado na embalagem.
- A água do cozimento do macarrão é uma boa aliada. Junte algumas colheres na hora em que for misturar a massa ao molho.
RECEITA: macarrão da feira
Massa cozida, dia corrido, mas me recuso a comer miojo. Resolvi aproveitar legumes que comprei na feira da semana para fazer uma massa leve, diferente, fresca e rápida. Usei abobrinhas (italiana e princesa), uma berinjela pequena, duas cebolas roxas, dois dentes de alho, um pimentão vermelho, tomatinhos sweet grape, algumas azeitonas pretas e manjericão fresco da minha horta.
Aqueci uma frigideira grande com azeite e grelhei os legumes, exceto o alho, as cebolas e os tomatinhos. Importante que todos eles fiquem em contato com o calor da frigideira para que caramelizem. Reservei.
Em mais um fio de azeite joguei os alhos laminados, as cebolas em pétalas e os tomatinhos cortados ao meio. Frigideira bem quente, só pra dar aquele susto. Duas colherinhas de vinho branco só pra levantar aquela fumaça e dar um toque de acidez. Voltei com os legumes grelhados pra panela e finalizei com as folhas de manjericão rasgadas, as azeitonas, raspinhas de limão siciliano, sal e pimenta do reino. Acrescentei a massa com um tiquinho da água do cozimento e uma colher de chá de manteiga. Misturei bem.
Nem só com queijo ralado se finaliza uma massa
Macarrão com farofa pode parecer algo bem brasileiro, mas no Sul da Itália é bem comum. A molica, como chamam, é uma farofa feita com migalhas de pão. Pra fazer é só triturar qualquer pão amanhecido ou torradas, e levar à frigideira com temperos de sua preferência. Na minha usei manteiga, salsinha e raspas de limão. Faz aí...leva só um minutinho e fica maravilhosa!
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