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"É verdade que o amor que a pessoa recebe na infância interfere na forma que ela vai amar?"
O amor é um tema que nunca irá se esgotar! Poetas, músicos, romancistas, pintores nos dão provas cotidianas dessa afirmação. Mas a história que mais me faz lembrar sobre o amor vem das ciências humanas.
Margareth Mead, antropóloga americana, foi perguntada qual teria sido o primeiro vestígio de civilização na cultura. Ao contrário do que todos podem pensar, não foi a tecnologia dos utensílios ou o desenvolvimento da agricultura, mas sim um fêmur fraturado e consolidado.
Você pode se perguntar o que isso quer dizer, principalmente num texto cujo objetivo é responder sobre o amor. Bem, um osso consolidado quer dizer que a ferida foi cuidada. E só cuida quem ama. Então, o primeiro indício de civilização nasce a partir de um ato de amor e de cuidado.
Amar e cuidar podem ser considerados verbos que se complementam. Ambos são um meio, e não um fim, embora os amantes busquem na efemeridade dos encontros, dos momentos, é muito mais na reciprocidade das ações que ambos, amar e cuidar, expressam sua potência.
Amar, ser amado e se fazer amar, estão em paralelo a cuidar, ser cuidado e se fazer cuidar. Mas é importante ressaltar que o amor, assim como o cuidado, não é abnegado, e é nesse momento que me afasto dos poetas. O amor e o cuidado têm pedigree, carregam e carreiam as marcas do que recebemos em nossa origem.
A mãe nos ensina a amar. Não a de carne e osso – de preferência uma mãe com algumas cicatrizes e ossos quebrados. Aqui, trata-se de uma metáfora para dizer que só cuida quem também foi cuidado – mas aquela pessoa que cuidou de nós, com o melhor que tinha e principalmente com o que podia.
Só ama quem também foi amado. Se formos sábios, aproveitaremos o melhor que há em nós, o melhor que recebemos, e nos distanciaremos daquilo que não achamos ter sido bom ou eficiente. Amor e cuidado são elementos humanizantes e, principalmente, transmissíveis.
Assim, tanto o amor quanto o cuidar devem encontrar sua potência maior não na perpetuação do sentir, mas na promoção da autonomia. Amo e cuido para que o outro possa também amar e cuidar. Não necessariamente a mim, mas a si mesmo, o que não quer dizer autossuficiência.
O amor nos leva sempre ao infantil que nos habita, à vulnerabilidade; já o cuidar nos emancipa, nos torna adultos. E que seja nesse looping de amar e cuidar ou cuidar e amar que sejamos reanimados em nosso desejo enquanto sujeitos, especialmente em tempos de tanto ódio.
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