Agora que escrevo para essa coluna todas as semanas, me vi na urgência de estar ainda mais atenta a tudo que se passa ao meu redor. Esse texto chega com um pequeno atraso, mas achei-o bem conveniente. Embora ele houvesse se materializado na minha cabeça imediatamente após a reflexão que me colocou a considerar sua escrita, por alguns momentos hesitei fazê-lo. Achei que minha análise seria notícia antiga e sem serventia.
Na semana passada, estávamos em clima eleitoral, carros de som, bandeiras trêmulas nas ruas, abordagens amistosas, já outras nem tanto. Eis que fui tomada de assalto por meu filho, no alto dos seus 9 anos, com a seguinte pergunta: “Mamãe em quem você vai votar?”.
Imediatamente respondi que ainda não sabia. Eu precisava analisar as propostas dos candidatos. Ele, embebido pela infância, não hesitou, como eu fiz ao pensar em escrever sobre esse tema e disparou, mais uma vez, confiante: “Se eu fosse candidato, você votaria em mim?”.
Num misto de orgulho e preocupação, típico das mães, de imediato minha mente respondeu: “Mas é claro, me orgulho de ti”. Mas a razão bloqueou o reflexo motor da minha língua e me fez refletir. Em quem votamos, por que votamos?
Freud, o criador da psicanálise em Análise Terminável e Interminável (1937), afirma que educar, psicanalisar e governar seriam os “ofícios” impossíveis. O interessante desse recorte é que o médico vienense não utiliza a palavra profissão, mas sim ofício, que na sua origem mais remota, significa “chamado”, uma vocação. Uma função que os homens assumem na sociedade, um encargo, um determinado trabalho.
Nossos candidatos, de fato, exercem suas atribuições, em seus cargos, para os quais são escolhidos pelo povo de maneira democrática, para cuidar do bem coletivo, ou seja, para todos, de maneira justa? Ou transformam seus cargos em profissões, agarrando-se a eles, fazendo carreira?
Vocês devem estar realmente curiosos para saber se eu votaria no meu filho ou não! Bem, eu respondi com a coerência de quem educa, e como vimos acima, esse é outro chamado impossível. Disse-lhe que precisava saber quais eram as suas propostas para a comunidade. Sua resposta foi o que vemos como necessidade básica dos seres humanos e que vemos dia a dia.
Saúde, educação... Mas dois temas me chamaram a atenção. O primeiro, por se tratar de um menino, que afirmou a plenos pulmões que trabalharia para reduzir a violência contra as mulheres, e o segundo foi algo que me tocou profundamente.
Na sua agenda, considerou as crianças. Disse que as crianças não são representadas na câmara. Que lá só tem adulto. Considerou também que a cidade não tem atrativos para a infância. Poucas praças e parques. Que ficaria muito feliz se pudesse ter a infância que nós, seus pais, tivemos, poder brincar na rua ao invés de estar preso dentro de casa.
Não sei quanto a vocês, mas essa queixa me fez pensar. O que nós, pais e mães, estamos garantindo enquanto herança política para nossos filhos? Qual lugar as crianças ocupam? Quem faz ecoar suas vozes? Nas câmaras, só há adultos, como bem disse meu jovem eleitor. Estamos permitindo que as necessidades das crianças sejam consideradas?
Deixo esses inúmeros questionamentos para pensarmos. Se teremos 2º turno para a escolha de nosso representante municipal, não sei. Devemos nos ocupar das demandas das futuras gerações no presente e não no futuro? Certamente.
Mas uma coisa que me encheu de orgulho foi o fato de que a minha criança, e também seus amigos – pois fiz uma pequena enquete entre aqueles que convivemos –, sinalizaram que votariam nas mulheres, pois ouviram uma candidata a vereadora falar no Youtube sobre as crianças, enquanto os homens não falam sobre o assunto. Touché. Acertaram na mosca. Eu diria que essa nova geração está antenada!
Fica como sugestão aos candidatos, homens, mulheres ou qualquer outro gênero. Ouçam as crianças. Elas nos ensinam muito, nos apresentam o que é realmente necessário e, principalmente, nos permitem criar, ousar, sonhar, e isso nos tira da melancolia que estamos vivendo.
O meu voto hoje vai para todas as crianças. Vamos trazê-las à cena da política, não apenas criando leis de proteção ou punição, mas considerando suas vozes. Só com essa aposta poderemos tornar possíveis condições mais igualitárias, criativas, que promovam transformações sociais que congreguem realmente todos e de todas as idades.
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