É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

Round 6: pais precisam controlar os conteúdos acessados por seus filhos

A família deve orientar o que é apropriado e proibir caso o conteúdo não seja adequada à idade de seus filhos. E também para além da idade.

Publicado em 01/11/2021 às 02h00

Pergunta: Bianca o que você achou sobre Round 6? É apropriado? Tá sabendo da polêmica? Por favor, assista para nos dizer o que acha. Devo deixar meu filhos assistir? 

Nos últimos tempos percebo o quanto pais e mães estão desapropriados de suas funções e recorrem aos especialistas para as suas tomadas de decisões quanto ao que é apropriado ou não aos seus filhos.

Eu li o resumo sobre essa série do Netflix e não me interessei nem um pouco por ela embora seja uma consumidora de filmes e séries.

Eu pude ler que inúmeras críticas enquanto chegavam a mim essas demandas por opinião. Os textos expressavam o quanto a série é violenta, que utiliza das brincadeiras da infância de um modo macabro. Algumas escolas me pediram orientação de como conversar com as crianças sobre esse assunto. Enfim, ainda sim, não cedi às demandas diversas para assisti-la e opinar. Não assisti.

Série sul-coreana
A série não é apropriada para menores de 18 anos. Crédito: Netflix/ Divulgação

Aos pais e mães digo: a série não é apropriada para menores de 18 anos, pelo simples fato de sua classificação etária determinar que ela não é apropriada e ponto final. A classificação etária das obras audiovisuais foi criada em 1990 como ferramenta de auxílio aos pais na escolha do conteúdo ao qual seus filhos poderão ter acesso. Seu critério é basicamente o nível de maturidade que as crianças e jovens possuem para assistirem e assimilarem os conteúdos propostos pelos programas. E isso faz diferença? Sim, faz.

Essa semana pude ouvir uma pessoa cujo problema eram intensas crises de ansiedade que paralisam suas ações e já produziram no passado um grande período de depressão. Perguntei se ele se recordava da primeira vez que havia se sentido assim na vida e sua resposta foi por volta dos 8 anos. Não soube de imediato dizer ao certo porquê.

Dias mais tarde, essa pessoa se recordou que aos oito anos assistiu, em uma novela, uma cena de morte. Ao recordar dessa lembrança pode perceber o quanto aquela cena o impactou pelo fato de não saber lidar com aquele conteúdo naquela idade. Trata-se de um homem na casa dos 40 anos. Ou seja, estamos falando dos anos 80, quando não havia classificação etária para os programas de TV.

O que quero dizer é que cabe aos pais o controle dos conteúdos acessados por seus filhos. Há algumas semanas tive a oportunidade de participar do 6° Encontro de Pais e Mestres promovido por A Gazeta e a pergunta feita foi: "Os pais devem estar a par do que os seus filhos assistem ou acessam, devem checar?". A reposta é sim. Não com o intuito policialesco, de reprimir, mas sim como ferramenta útil de manutenção do diálogo familiar com as crianças e jovens. E a família deve orientar o que é apropriado e proibir caso o conteúdo não seja adequada à idade de seus filhos. E também para além da idade. Há pessoas com idade mas não tem maturidade ou outros atributos para assimilar aquele conteúdo. Quem melhor que os pais para conhecer os limites de seus filhos?

Aos pais deixo a seguinte missão: assistam aos desenhos, aos programas e aos vídeos do Youtube e do Tik Tok. Essas mídias são os “novos amigos de seus filhos”, os meios de comunicação que entram pela sua casa e muitas vezes se mantêm invisíveis na solidão que a criança contemporânea vive. Essa janela paro o mundo pode (e deve) ser vista e discutida em casa sempre que possível. É função dos pais peneirar informação, orientar sobre conteúdos e principalmente, ensinar à sua moda o que e como a vida deve ser absorvida pela criança. Aos pais cabe estabelecer os limites, as regras, definir o que é apropriado.

Ao manter o diálogo em casa produz crianças confiantes e seguras sobre o bombardeio de informação ao qual são submetidas diariamente. E crianças seguras e confiantes serão adultos menos adoecidos. Às vezes nos cabe ensinar às crianças a esperar e ponto final.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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