A pandemia trouxe luz e relevo a algo que toda mãe já sabe, mas que agora se encontra potencializado: a carga mental das mulheres e o acúmulo de trabalho, principalmente das mães.
Sim, elas e somente elas, nesse momento de confinamento e distanciamento social, são as pessoas que mais estão trabalhando e sofrendo, emocionalmente. E pelo simples fato de serem as principais e, muitas vezes, as únicas responsáveis pelos aspectos do cuidar: da casa, das crianças, do trabalho e do relacionamento amoroso. Muitas tarefas para apenas dois braços.
Se há algum legado a ser deixado por esses dias soturnos de incerteza é que deveríamos estar mais solidários às mães. Todos nós.
Como ouvinte das mulheres, das famílias, escuto diuturnamente o desespero, principalmente das mulheres que são mães e que precisaram, além de tarefas, acumular também funções. E me pergunto: onde estão os companheiros dessas mulheres, os pais dessas crianças?
Ouvi de famílias estruturadas que o companheiro precisava ser mandado, que a lista de compras deveria ser escrita e que a gestão da casa permanecia centralizada em apenas uma pessoa, a mulher. Acredito que para muitos a ficha não caiu ainda. Talvez nem caia.
Já é possível contabilizar o aumento nos pedidos de divórcio, passada a onda da doença. A questão que surge é: o que fica tão escancarado? Quais desigualdades nas funções sociais não podem mais ser suportadas, quando mães e pais lutam de igual por igual pelo sustento da casa?
De antemão te digo, você não fracassou! As demandas são impossíveis e servem para que você se sinta exatamente assim, ineficiente. O que é cruel.
Posso dizer ainda algumas coisas:
Seu filho não ficará burro por não cumprir com algumas tarefas escolares; coloque-o para arrumar o quarto. Ter autonomia é uma herança importante.
A casa não precisa estar um brinco: estamos lutando para sobreviver e se for “a comida que dá para fazer”, já está ótimo.
O marido é alguém que divide as tarefas, todas elas. Se ele precisa ser lembrado disso a todo momento, então ele está mais para um “filho” que para um “marido”.
E seja, principalmente, mais solidária consigo mesma. Você já está fazendo o melhor que pode e é o suficiente. E seu trabalho, mesmo invisível por muitos, será visto por tantos outros, mas só no futuro.
Afinal, como nos ensinou Freud em seus três ofícios impossíveis, governar, psicanalisar, educar – e eu acrescentaria um quarto, o maternar – em tempos de pandemia, é uma baita impossibilidade.
Portanto, peço aos leitores, cuidem das mulheres de sua família que são mães.
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