Todo brasileiro tem uma relação afetiva com o café. Quase sempre presente nas reuniões de família, o cheirinho da bebida é memória recorrente quando pensamos nos nossos entes distantes fisicamente ou nos que já se foram. Se você nasceu no Espírito Santo, ou passou aqui alguma fase da infância, esses laços tendem a ser mais fortes. Seja na sua cidade, na casa de algum parente ou até mesmo pela estrada, o café estava ali, em torno da gente, no Estado que é o segundo maior produtor de café do Brasil em volumes gerais e o primeiro lugar quando se trata apenas de café conilon.
Sou nascido e criado em Colatina e minha memória com o grão vem de um vizinho que levava a vida como caminhoneiro, transportando café cru. Ao lado da igrejinha do bairro, a molecada se reunia para brincar em volta das sementes que caíam durante o transporte, no chão de terra batida. O cheiro que eu sentia brincando com eles é o mesmo das tulhas e armazéns que visito hoje em dia.
É para aquele cenário de infância que sou levado sempre que ando pelas propriedades rurais em busca dos melhores cafés para a torrefação da qual me tornei sócio há pouco mais de dois anos. Como consumidor, a lembrança vêm quando tomo café com leite gelado. Era assim que eu bebia quando adolescente nos anos 90, no começo da internet e dos jogos de computador, para onde a brincadeira de rua foi naturalmente sucedida. Profissionalmente o café faz parte da minha vida desde 2010, quando abri minha cafeteria, a Kaffa, em Jardim da Penha.
Na coluna "Bom Café", vamos falar quinzenalmente sobre café, bons cafés, cafés especiais, cafés que estão em voga pelo mundo afora e sobre a valorização de toda a cadeia produtiva, que é extensa, dura e historicamente parte dessa nação. Nosso foco estará nos cafés de qualidade, pois são eles que agregam valor ao que é produzido no campo. São eles que tenho orgulho de servir nas xícaras, apresentando seus aromas, notas sensoriais e demais atributos que a natureza é capaz de entregar - e cabe ao toque humano evidenciar.
Café em números
Neste nosso primeiro encontro, nada mais justo do que falar do valor que o café capixaba tem, não só para a memória dos que nasceram aqui, como eu, mas para a economia nacional. Então, vamos aos números: em 2018, 63,4% de todo o café conilon produzido no Brasil saiu do nosso Estado, o que equivale a 8,98 milhões de sacas, de 60 quilos cada uma. Há perspectiva de um crescimento entre 15 e 20% para este ano. Quando falamos de café arábica, nossa fatia é menor. Somos responsáveis por apenas 10% do volume nacional, com 4,751 milhões de sacas, e ocupamos o terceiro lugar no ranking brasileiro.
Os maiores produtores capixabas de café arábica são os municípios de Brejetuba, Iúna, Vargem Alta, Ibatiba, Muniz Freire, Irupi, Afonso Claudio, Domingos Martins, Ibitirama, Castelo, Mimoso do Sul e Santa Teresa. Já o conilon se destaca em Jaguaré, Vila Valério, Nova Venécia, Sooretama, Linhares, Rio Bananal, São Mateus, Pinheiros, Governador Lindenberg, Boa Esperança, Vila Pavão, São Gabriel da Palha, Colatina e Marilândia. Os dados são do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência técnica e Extensão Rural - Incaper.
Nós capixabas temos muito do que nos orgulhar quanto ao que é cultivado aqui. Temos produtores incríveis que além de exportar café geram conhecimento sobre ele, e tudo isso bem pertinho da Capital. Durante nosso tempo, vamos conversar sobre a produção, as tendências, os campeonatos e os acontecimentos que envolvem esse grão por que somos apaixonados. Bom café!
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