Professora da Ufes, coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello ACNUR/ONU para refugiados e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ufes

Vini Jr. sem Bola de Ouro levanta questões sobre o racismo no futebol

A falta de reconhecimento de Vini Jr. na premiação pode ser vista como um reflexo desse problema. O racismo não se manifesta apenas em insultos das arquibancadas, mas também nas sutilezas das decisões institucionais

Publicado em 30/10/2024 às 01h30

O racismo no futebol é um fenômeno que reflete desigualdades históricas e estruturais. Aníbal Quijano, com sua teoria da de(s)colonialidade, oferece uma perspectiva crítica sobre como o legado colonial continua a influenciar as relações sociais e raciais. Na coluna de hoje procuro aplicar a teoria de(s)colonial para fazer uma análise mais profunda do racismo por trás dos ataques racistas sofridos por Vinícius Jr. na Espanha e sua não premiação com a Bola de Ouro, nesta segunda-feira (28).

Derrota de Vini Jr. levanta questões importantes sobre o racismo no futebol e sobre a forma como as instituições formais e informais ligadas ao esporte lidam com elas. Ele tem sido um dos jogadores mais brilhantes de sua geração, encantando torcedores com seu talento e habilidade.

No entanto, sua trajetória na Espanha tem sido marcada por episódios lamentáveis de racismo. Esses incidentes não apenas afetam sua vida pessoal e profissional, mas também refletem uma falha sistêmica em lidar com o racismo no futebol.

A falta de reconhecimento de Vini Jr. na premiação pode ser vista como um reflexo desse problema. O racismo não se manifesta apenas em insultos das arquibancadas, mas também nas sutilezas das decisões institucionais e nos critérios de avaliação que, muitas vezes, desvalorizam o talento de jogadores negros.

Um dos teóricos da decolonialidade foi Aníbal Quijano, sociólogo e teórico peruano, conhecido por suas contribuições ao pensamento crítico latino-americano. Nascido em 1928 e falecido em 2018, ele é mais famoso por desenvolver o conceito de "colonialidade do poder", que analisa como as estruturas de dominação colonial continuam a influenciar as sociedades contemporâneas, especialmente na América Latina.

 Quijano argumenta que o colonialismo não terminou com a descolonização formal; ele se transformou e persiste nas estruturas de poder. No contexto do futebol, isso se manifesta na forma como jogadores negros são tratados. Vini Jr. vem enfrentando insultos racistas que refletem não apenas preconceito individual, mas uma estrutura social que ainda hierarquiza raças de acordo com uma lógica colonial.

A desumanização e a objetificação de corpos negros são aspectos centrais da colonialidade do ser. Vinícius Jr. foi alvo de ataques que o reduzem a estereótipos raciais, negando sua individualidade e humanidade. Essa desumanização é um resquício das práticas coloniais que ainda informam as relações sociais, notadamente na Espanha, que juntamente com Portugal protagonizou a primeira etapa da colonização na modernidade.

O conhecimento e as narrativas dominantes muitas vezes minimizam ou ignoram o impacto do racismo. A cobertura midiática e as respostas institucionais aos ataques sofridos por Vinícius Jr. frequentemente falham em contextualizar esses eventos dentro de uma estrutura histórica mais ampla de opressão racial.

Futebol
A escolha do espanhol Rodri como Bola de Ouro, com Vini Júnior em segundo, repercutiu no mundo da bola. Crédito: Reuters/Folhapress

Para combater efetivamente o racismo no futebol, é necessário desafiar e desmantelar as estruturas coloniais que sustentam essas práticas. Isso inclui a implementação de políticas rigorosas contra o racismo, bem como a promoção de uma educação que valorize a diversidade e a inclusão.

A teoria da colonialidade de Aníbal Quijano é mais uma ferramenta valiosa para entender e abordar o racismo no futebol. Ao reconhecer e confrontar as raízes coloniais dessas práticas, podemos avançar em direção a um esporte mais justo e igualitário.

É crucial que o mundo do futebol tome medidas concretas para combater o racismo. Instituições esportivas, clubes e torcedores devem unir esforços para criar um ambiente mais inclusivo e justo.

A luta de Vini Jr. é um lembrete de que o talento não deve ser ofuscado por preconceitos. É hora de o futebol refletir a diversidade que tanto o enriquece e garantir que atletas sejam avaliados por suas habilidades, não pela cor de sua pele.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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