É graduado em Direito pela Ufes e assessor jurídico do Ministério Público Federal (MPF). Questões de cidadania e sociedade têm destaque neste espaço. Escreve às sextas-feiras

Do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo: a lição de 2024 para a justiça climática

Apesar de tempestades serem usuais, principalmente no verão brasileiro, o ano confirmou que elas se tornaram mais robustas em meio ao impasse climático e ao contexto social

Publicado em 26/12/2024 às 23h00
Pessoas tentam encontrar alimentos em meio à lama da destruição em Mimoso do Sul
Pessoas tentam encontrar alimentos em meio à lama da destruição em Mimoso do Sul. Crédito: Fernando Madeira

Os últimos dias de 2024 foram marcados por fortes e volumosas chuvas no centro-sul do Brasil. Inclusive na Grande Vitória, que voltou a registrar as já conhecidas cenas de alagamentos em plena semana do Natal.

No início de 2024, no mês de março, cidades do Sul do Espírito Santo foram, mais uma vez, fortemente impactadas pelas chuvas. Somente no pequeno município de Mimoso do Sul, 18 pessoas perderam a vida. Pouco tempo depois, em maio, boa parte do Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas com intensidade recorde, criando um cenário de calamidade na região e que mobilizou todas as esferas de governo e a sociedade civil em torno do socorro às vítimas. Ainda hoje os prejuízos estão sendo, paulatinamente, recuperados.

Apesar de tempestades serem usuais, principalmente no verão brasileiro, o ano confirmou que elas se tornaram mais robustas em meio ao impasse climático e ao contexto social. Não se pode deixar de avaliar tal panorama sem levar em consideração o processo de urbanização, exponenciado a partir da Revolução Industrial, e as mudanças climáticas, em boa parte, ocasionadas pela própria ação humana, principalmente pela emissão de gases que contribuem com o famigerado efeito estufa.

As tragédias climáticas que marcaram 2024 são provas inequívocas da urgência na implementação de medidas de prevenção de catástrofes. Uma dessas medidas foi utilizada com êxito recentemente no Espírito Santo: o acionamento, pela primeira vez, dos sinais de alerta enviados diretamente ao celular dos moradores das regiões sob risco. Informação de qualidade e no tempo certo poupa vidas e pode diminuir os impactos patrimoniais das adversidades meteorológicas.

Além dos alertas, é persistente a urgência em recuperar rios e córregos, que foram canalizados e maltratados ao longo do tempo. O cinza do concreto não substituiu apenas o verde das cidades, tornou o solo mais impermeável. Quando chove forte, os cursos de água enchem mais rapidamente e sem ter como seguir o destino natural de correr normalmente, eles correm mais rápido, em velocidade violenta, além disso, a vazão demora cada vez mais.

Isso se torna ainda mais preocupante quando se relembra a quantidade de moradias em locais de risco, dado ao já conhecido déficit habitacional no Brasil. Enquanto poucos têm muitas propriedades, muitos têm poucas terras e por isso acabam tendo de ocupar locais perigosos. E são justamente as pessoas mais pobres que acabam pagando a conta quando a natureza quer ocupar seu espaço.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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