Bolsonaro não morre de amores pela imprensa. Acredita, equivocadamente, que as redes sociais são a grande cartada. Não percebe que agenda pública continua sendo determinada pelas empresas jornalísticas tradicionais. O que ele conversa com a família, com os assessores e com os amigos, no Palácio da Alvorada ou no Planalto, goste ou não, foi sussurrado por uma pauta de jornal. As redes sociais reverberam, multiplicam. Mas o pontapé inicial foi dado por um repórter. Bolsonaro precisa conversar com a mídia, superar seus ressentimentos, vencer seus dragões interiores. Esgarçar relações nunca é um bom caminho.
Em recente entrevista a Tânia Monteiro, repórter do jornal "O Estado de S. Paulo", Bolsonaro reafirmou seu “total respeito às instituições e à liberdade de imprensa”. Bom sinal. No entanto, o estilo agressivo do presidente, sobretudo dos seus filhos, tem provocado reação da mídia. Alguns jornalistas têm exacerbado seu olhar crítico a um governo que ainda não completou um ano e herdou uma herança de corrupção e incompetência para lá de complicada.
Governo e imprensa não podem ter uma relação promíscua. É salutar certa tensão entre as instituições. Mas precisam conversar. São peças essenciais da estrutura democrática.
Ao longo deste ano, alguns jornalistas da grande mídia, na cobertura de política e do governo, e em nome de suposta independência, tem enveredado excessivamente pelo que eu chamaria de jornalismo de militância. E isso não é legal. Não fortalece a credibilidade e incomoda crescentemente seus próprios leitores. Consumidores de jornais mostram cansaço com o excesso de negativismo de nossas pautas. Trata-se de um fato percebido nas redes sociais.
Na verdade, à semelhança do que aconteceu no segundo semestre de 2018, há um crescente distanciamento entre o que veem e reportam e aquilo que se consolida paulatinamente como fatos e/ou percepções de suas próprias audiências, posto que a essas foi dado o poder de fazer suas próprias reflexões e até mesmo apurações, facilitadas e potencializadas pela internet.
Ao agirem dessa forma, correm o risco de comprometer a viabilidade de seus próprios veículos, pois somarão às já conhecidas perdas de verbas publicitárias dos últimos muitos anos uma diminuição das audiências. Não se trata, por óbvio, de ficarmos reféns do leitorado. Os jornais, frequentemente, têm o dever ético de dizer coisas que podem não agradar aos seus leitores. Mas é preciso não perder conexão com as percepções do público.
É necessário reconhecer, para bem e para mal, que perdemos a hegemonia da informação. Impõe-se, por óbvio, um jornalismo menos anti e mais propositivo. O que não significa, nem de longe, perder a necessária independência e senso crítico.
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O leitor, cada vez mais crítico e exigente, quer notícia. Quer informação substantiva. Chegou a hora do jornalismo propositivo.
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