Estamos em tempo de aplicativos de encontros, namoros, sexo casual... Enfim, uma gama enorme de formas de nos expressar, conhecer, tocar ou somente gozar virtualmente.
Tenho pensado muito nisso. Por conta disso, resolvi visitar alguns aplicativos, os mais comuns, e percebi algumas coisas em meu comportamento. Isso não significa que o mesmo acontece com todos, mas serve para pensarmos.
1 – O nome - Não é o seu. Normalmente usa-se um nome falso, um chamariz, uma indicação do que se procura. Por exemplo: “pra hoje” ou “homemnamora”, “fofo”, “dotado”, “de boa”... Percebi que me sentia mais seguro no anonimato. Embora isso não dure para sempre, pois o pedido do número do celular ou de nudes (foto pelado) pode tirar essa privacidade. Há quem tenha um celular somente para isso. Pra falar a verdade, comecei a ter preguiça de tanta coisa para pensar, articular e manipular.
2 – A quantidade - Aparece uma quantidade incrível de pessoas querendo conversar. Algumas mulheres buscam relacionamento, mas logo aceitam um encontro mesmo sem obter dados sobre mim, mesmo em tempo de pandemia. Pensei: ‘que solidão é essa!?, que desprezo pela vida’, pois eu poderia ser um assassino, assaltante... Já outras mulheres querem conversar bastante primeiro, e, com essas, nem adianta tentar nada no primeiro dia.
Quando coloquei um nome feminino, percebi que, com os homens, as coisas são muito mais arrojadas. Se a mulher (no caso, eu) não quiser nada na hora ou no dia, a maioria simplesmente não dá mais papo. Se não trocar nudes, idem. Inclusive o envio de nudes costuma acontecer logo após a primeira conversa mesmo sem a solicitação. Algo tão rápido, sem motivo. Me senti um ET por não conseguir seguir esse padrão. Claro que houve homens que foram sedutores, românticos, interessados em maiores dados e conversas, mas a minoria, com certeza.
3 - A compulsão - Percebi que a possibilidade de poder aparecer alguém interessante a qualquer segundo fez-me querer ficar muito tempo, buscando, esperando, ansiando pela novidade. Gerando uma necessidade, como um vício, e em pouco tempo. Quando percebi, as horas que passei sem perceber, acendeu uma luz em mim. E parei.
Refleti que, para mim, tal ferramenta necessitaria de um bom treinamento antes. Claro que já sou um sexagenário e meus valores são outros; não pela idade, mas por ver o ser humano de outra forma. Há coroas e idosos que agem da mesma forma que os jovens.
Recebo, no consultório, homens e mulheres de várias faixas etária sentindo um vazio que não sabem de onde vêm. Após várias sessões, a falta de algo substancioso aparece. Para muitos é tão normal a vida virtual, que esquecem outras realidades, o que começa a fazer falta.
Quando não nos conectamos com nossa falta, quando não damos tempo para senti-la, não desenvolvemos o desejo, e qualquer coisa serve. O sexo fica sem intimidade (não dá tempo), fica sem excitação. Buscamos um orgasmo, que muitas vezes não vem. E depois buscamos alguém ou a nós mesmos que não mais achamos.
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