As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 causaram prejuízos econômicos relevantes. A Confederação Nacional do Comércio estima que as perdas foram de R$ 97 bilhões, sendo R$ 58 bilhões no próprio estado e R$ 39 bilhões em outras regiões.
Os incêndios florestais devastadores que atingiram Los Angeles em janeiro, ainda em curso, resultaram em prejuízos econômicos até agora de 150 bilhões de dólares.
Esses desastres não são casos isolados, mas parte de um processo em crescente aceleração nas últimas décadas.

O Centro Nacional de Informações Ambientais (NCEI) dos EUA divulgou um relatório sobre os 28 maiores desastres climáticos ocorridos no país em 2023, estimando seu custo em 93 bilhões de dólares. Ao analisar a série dos 376 maiores desastres entre 1980 e 2023, o NCEI estimou um custo acumulado de 2,66 trilhões de dólares, equivalente neste período a 1% do PIB anual americano ou 122% do PIB brasileiro de 2023.
O Boston Consulting Group estima que caso não sejam adotadas medidas preventivas, a redução do PIB mundial pode chegar a 15% até 2100 devido a catástrofes climáticas
Mas esses custos não estão restritos aos desastres climáticos, alcançando diversos setores da economia.
Entre os mais vulneráveis está o agronegócio brasileiro, atual locomotiva do país. As condições climáticas extremas de 2024 impactaram fortemente o setor, afetando a agropecuária e culturas em diversas regiões, com perdas significativas que afetaram a produção e preços e aumentaram a inflação.
O Espírito Santo também foi afetado pela seca e pelas chuvas, com queda de 20 a 30% na safra do café conilon, principal produto do agro capixaba. E, segundo as previsões, não há por ora expectativa de trégua em 2025, em que as mesmas condições poderão se repetir, não só no Brasil como em vários países.
Isso significa que as mudanças climáticas estão enviando contas cada vez mais salgadas, gerando déficit público, aumentando a inflação e freando o desenvolvimento, a ponto de já preocuparem os Bancos Centrais de diversos países, inclusive o do Brasil, que vem criando indicadores e moldando políticas que as levem em conta.
As mudanças climáticas são a ponta emblemática de um iceberg profundo, com várias dimensões, como a destruição dos recursos naturais e o aumento das desigualdades sociais.
Até um passado recente, a economia e as condições socioambientais sustentáveis eram tratadas como antagônicas pelos “desenvolvimentistas” e “socioambientalistas”.
O agravamento da degradação socioambiental vem quebrando esse paradigma, ao dar nitidez aos danos à economia e à necessidade de uma forma de desenvolvimento sustentável que possibilite revertê-los. É como se os dois grupos se sentissem vivendo em planetas separados, até que a crescente dramaticidade dos eventos socioambientais mostrasse que seu planeta é o mesmo e que devem atuar juntos para que todos sobrevivam da melhor forma possível. A degradação socioambiental tornou-se também um problema econômico.
Um consenso geral jamais será atingido, pois há grupos que se opõem por razões diversas ou interesses econômicos, e que criaram trincheiras de onde resistirão.
Por isso, ainda não alcançamos o estágio ideal de um sentimento compartilhado sobre nosso destino, mas os fatos empurrarão a sociedade inevitavelmente nessa direção. A torcida é que para que neste mundo diverso, com tantas complexidades, interesses e desafios, a convergência de visões e ações se torne dominante a tempo de possibilitar que possamos preservar, inclusive para diversas gerações já nascidas, uma qualidade de vida na Terra que honre a inteligência do Homo Sapiens.
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