Somos passageiros recentes da nave Terra. Estima-se que a vida tenha surgido há 3,5 bilhões de anos, enquanto o Homo Sapiens o fez há 300 mil.
Um Relógio da Vida com 24h mostraria que o Homem entrou em cena nos últimos 3 minutos, pouco antes da meia-noite, e ainda assim alterou o enredo da peça e mudou até seu título para Antropoceno, uma nova era das muitas que a Terra teve.
Neste curto espaço de tempo, sua influência sobre o planeta foi gigantesca. O Homem tornou-se presunçoso: as 3 religiões monoteístas - Judaísmo, Islamismo e Cristianismo – compartilham a crença da sua criação desde o início dos tempos, como o “Escolhido de Deus”. O líder indígena e Acadêmico Ailton Krenak alerta que ao chamarmos os bens da natureza de “recursos naturais”, tratamo-los como se existissem para servir à Humanidade, e não como o ambiente que lhe permite viver. O imaginário coletivo é o de que a Humanidade só acabará no fim dos tempos. Ailton compara-o a um photoshop dos Homens colados à nave Terra, ignorando que a nave pode seguir sem nossa existência.
Apesar dos alertas da Ciência, perdemos essa noção. O caso mais emblemático é o das mudanças climáticas. No curso atual e sem medidas para contê-las, as previsões são de que a temperatura subiria 4,4°C em relação aos níveis pré-industriais até 2100, que foi o ano limite dos modelos usados pelo Painel de Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC. Isso causaria impactos significativos para os ecossistemas, deterioração na saúde humana, aumento das mortes causadas por diversos tipos de fenômenos climáticos e um impacto na economia que reduziria o PIB mundial em 23%.
A severidade dos cenários previstos fez com que fossem adotadas medidas que evitassem os piores. O primeiro grande passo foi o Acordo de Paris, em 2015, que buscou manter o aumento da temperatura global em 2°C acima dos níveis pré-industriais, e se possível limitá-lo a 1,5°C. Para isso, todas as nações apresentaram compromissos para reduzir as emissões dos Gases de Efeito Estufa e combater as mudanças climáticas, a serem revisados a cada 5 anos.
No entanto, esses compromissos estão muito aquém do necessário, fazendo com que os cientistas prevejam que o aumento mais provável resultante das políticas atuais seja de 2.7°C até o final do século. Embora seja difícil agregar as diversas estimativas dos impactos deste cenário, é razoável inferir que seriam substanciais em todas as esferas, incluindo uma redução significativa do PIB global.
Além disso, existem várias incertezas, como as derivadas da transmutação de um processo físico-químico apolítico em questão ideológica, influenciando a agenda de países importantes como os EUA, o que pode ditar um rumo bastante temerário. Outra incerteza diz respeito à recente aceleração do aquecimento da atmosfera e nível dos oceanos, cujas causas os cientistas ainda estão tentando entender.

O ano de 2024 foi o mais quente da história, com aumento da temperatura média global de 1,55ºC, além de desastres climáticos, que causaram perdas estimadas entre 300 e 400 bilhões de dólares. Embora isso não signifique que os anos seguintes terão o mesmo curso, acendeu o sinal amarelo da incerteza sobre o futuro.
A questão não está ligada apenas à preservação do ambiente que nos dá sustentação, já bastante degradado, mas à sobrevivência da espécie humana ou no mínimo à manutenção de seu padrão de vida, que embora injusto e desigual, é o mais elevado dos últimos 100 anos, e pode cair substancialmente em um futuro à vista, afetando inúmeras gerações já nascidas.
É preciso frear ante o sinal amarelo. Frearemos? Considerando os impactos da alternativa de não frear, deveríamos fazê-lo.
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