Com a proximidade da COP2030 (Conferência para o Clima) que será realizada no Estado do Pará, temos um maior debate sobre a influência das alterações climáticas e ambientais. É claro que isso reflete diretamente no mercado imobiliário em toda a sua cadeia produtiva.
Hoje, nós temos uma urgência de adaptação dos profissionais e do mercado em seu todo para a nossa realidade atual e os próximos anos com dados de catástrofe ambiental no mundo em 2050, segundo a ONU.
Por isso, a necessidade de a população conhecer e investigar mais sobre cada detalhe de iniciativas sustentáveis é fundamental para a educação ambiental em seu todo e garantirmos um caminho mais limpo para a geração atual e as próximas.
O mercado imobiliário está em fase de implementação das mais variadas iniciativas de impacto socioambientais pelas empresas, profissionais e instituições. Deixo hoje aqui formas de qualquer pessoa pode aderir para apoiar a implementação de projetos de impacto socioambientais no mercado imobiliário:
1 - Verificar a reputação da empresa e do profissional que atua no mercado imobiliário
A documentação está regularizada? Possui o credenciamento ao seu órgão de classe? O que os demais clientes, fornecedores e funcionários falam sobre a atuação? Existe algum apoio a projetos ambientais e sociais? Esses critérios são importantes para o pilar credibilidade e transparência. Isso também é sobre colaborar e apoiar negócios que sigam as legislações e contribuam com a sociedade.
2 - Conhecer mais sobre os projetos de arquitetura com técnicas de biofilia
Isso quer dizer maior integração da vida do ser humano à natureza. Então, o imóvel que essa pessoa morar terá um maior potencial em pensar na saúde e bem estar de acordo com a sensibilidade personalizada de cada realidade.
3 - Analisar materiais sustentáveis para a construção
Aqui é importante pensar na circularidade de cada item para voltar à Natureza ao término de sua vida útil. Temos várias empresas de iniciativas louváveis com a utilização de materiais como: isopet, bambu, bioplástico, bioconcreto, terra, tijolo/telhas/tintas sustentáveis, escoras metálicas, lâmpadas de LED, vidros inteligentes, madeira de demolição e de reflorestamento.
4 - Usar energias renováveis
Hoje, nós podemos trazer painéis solares e energia eólica como aliados para a geração de energia nos imóveis. Além disso, a iluminação e ventilação natural são importantes.
5 - Olhar a água de forma racional
Ainda temos dificuldade de acesso ao saneamento básico em muitas regiões do Brasil e do mundo. Reúso, captação da água da chuva e chuveiros econômicos são alguns itens importantes.
6 - Pesquisar empreendimentos com certificações sustentáveis
Hoje, condomínios e novos empreendimentos podem obter certificações para confirmar as construções saudáveis e sustentáveis. Os selos e certificados são validados por uma série de fatores de análise de projetos arquitetônicos, materiais envolvidos e demais documentos.
7 - Incentivar iniciativas de ESG
Isso quer dizer que o próprio mercado precisa pensar na forma de fazer negócios de forma integrada ao todo. Não basta correr atrás da venda ou do lucro, mas implementar destaques em questões ambientais, sociais e de Governança. Alguns exemplos: gestão de resíduos com políticas de reciclagem, acompanhamento no reflorestamento e plantio, incentivo aos processos de biodiversidade, acessibilidade em projetos de arquitetura e urbanismo, compliance antidiscriminatório, antiassédio, segurança física e de dados, mediação como ferramenta para conflitos, ferramentas de compliance interno, respeito e transparência.
8 - Investigar a questão ambiental nos negócios
Cada empresa precisa estudar a legislação para fazer a sua adequação de licenciamento ambiental, regularização de terrenos e imóveis rurais, bem como conservação das áreas de proteção ambiental.
9 - Ensinar à sociedade por meio da educação ambiental
As escolas, condomínios e empresas podem criar oficinas e projetos de informações do tema. Em alguns locais, já vimos implementação de treinamentos, bem como hortas coletivas para o incentivo do cuidado ao meio ambiente.
Com o objetivo de trazer mais sobre o tema, convidei dois especialistas da área ambiental para responderem algumas perguntas. Além disso, indico a leitura e o acompanhamento da revista gratuita e on-line Na Prática Ambiental, que faz parte de uma iniciativa de educação sobre o tema.
Brunella Pianna Veronez
Engenheira ambiental, atua há 18 anos na mineração, logística, especialista em auditoria ambiental e editora da revista Na Prática Ambiental, que aborda assuntos como meio ambiente e a atuação no mercado potencialmente poluidor.
Como você entende que a sua formação como engenharia ambiental pode contribuir no mercado imobiliário?
O mercado imobiliário também é potencialmente poluidor e precisa de se adequar às regras ambientais vigentes para que tenhamos harmonia necessária ambientalmente falando. Como engenheira ambiental, entendo que posso contribuir na regulamentação do mercado, na adequação das empresas aos requisitos legais vigentes e em melhorias no processo, para que tenhamos aplicação de melhores práticas, mais sustentáveis nesse mercado que está em ascensão. As construções mais sustentáveis, com foco em economia de energia, reutilização de água, permeabilização do solo são de suma importância para esse mercado e podem contar com a atuação de um engenheiro ambiental para que seja realizada da forma adequada.
A sustentabilidade é realmente possível dentro do imobiliário?
Acredito que é possível e viável em todos os mercados, inclusive no imobiliário. A regularização imobiliária com adequações às legislações vigentes é de suma importância para que os órgãos públicos consigam executar um planejamento urbano e atuação com dados mais precisos. Além disso, deve-se considerar a adoção de práticas mais sustentáveis com a construção civil focada no uso de materiais de baixo impacto, cumprimento de regras de planejamento urbano, estratégia de gerenciamento de resíduos etc.
Quais são os riscos em relação à prática de greenwashing (expressão para empresas que criam uma falsa aparência de sustentabilidade, sem colocá-la na prática) por parte de empresas, empresários e instituições?
O meio ambiente ganhou os holofotes nos últimos anos, porém, junto chegou a parte ruim, conhecida como greenwashing. Empresas que adotam essa prática podem sofrer consequências graves em sua reputação, pois atualmente o mercado consumidor está mais atento e crítico ao processo. Nesse contexto, é muito mais importante para uma empresa que ela apenas cumpra as leis ambientais e atue de forma correta, do que inventar que faz uma atuação além do obrigatório porém que não faz.
Gustavo Coser
Engenheiro ambiental e de segurança do trabalho, com 15 anos de atuação em gestão e licenciamento ambiental e sustentabilidade empresarial. Consultor e instrutor de treinamentos, é diretor da GC Desenvolvimento e Meio Ambiente e coordenador dos grupos de trabalho da Associação dos Profissionais de Engenharia Ambiental do ES (Apea-ES).
Como você entende que a sua formação como engenheiro ambiental pode contribuir no mercado imobiliário?
Em praticamente todas as linhas do mercado, pois o engenheiro ambiental, por concepção e atribuição, é um profissional que idealiza e pode oferecer soluções para todas as etapas de um empreendimento imobiliário, do diagnóstico da área à legalização e acompanhamento das obras, em especial sendo a interface dos empresários com os órgãos ambientais licenciadores.
A sustentabilidade é realmente possível dentro do imobiliário?
Sem dúvidas que sim! Inclusive, deve ser tratada de forma sistêmica, pois tem o poder de influenciar desde as etapas de planejamento (escolha da área, vizinhança de inserção e respeito às áreas sensíveis legalmente estabelecidas), assim como as etapas construtivas (utilização de tecnologias limpas, materiais de origem certificada, controle ambiental, gestão e minimização de resíduos, uso racional da água, eficiência energética, mão-de-obra local, economia solidária e responsabilidade social), e até mesmo influenciar a utilização dos imóveis por parte dos adquirentes (infraestrutura moderna, espaços verdes, conforto e bem-estar). Ressalto que a aplicação de diretrizes de sustentabilidade no mercado imobiliário é um desafio coletivo, resultando no produto da relação entre construção, preservação ambiental e responsabilidade social.
Quais são os riscos em relação à prática de greenwashing por parte de empresas, empresários e instituições?
Primeiramente temos que deixar claro que se trata de um crime previsto na legislação brasileira, o que por si só, já se caracteriza como um dos principais riscos para as empresas. Em seguida, tem-se que essas práticas podem ocasionar danos irreversíveis ao meio ambiente e à sociedade como um todo, por conta da ausência do controle ambiental, gerando aumento da poluição de recursos hídricos e atmosféricos por parte da cadeia produtiva que anseia sempre pelo aumento da produção e do lucro econômico, utilizando-se de uma maquiagem verde nas campanhas de marketing comercial.
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