A norte-americana Courtney Henning Novak, conhecida no TikTok pela resenha de sucesso sobre "Memórias Póstumas de Brás Cubas", fica em alta novamente. Desta vez, em seu projeto "Read around the world" ou em tradução livre "Leia ao redor do mundo", no qual se desafiou a ler um livro de cada país do planeta, ela quebra sua própria regra de ler apenas um autor por nação, incluindo um bônus na categoria brasileira: "Dom Casmurro". Com 222,4 mil visualizações alcançadas em 23 horas, também suscita um questionamento antigo: afinal, Capitu traiu ou não traiu?
Em um vídeo publicado no dia 11/06, ela comenta que o primeiro lugar no pódio de livros favoritos é ocupado por "Memórias Póstumas de Brás Cubas", escrito por Machado de Assis, seu novo autor favorito. Entretanto, em uma atualização mais recente de suas leituras, publicada no dia 12/06, ela compartilha:
Courtney Henning Novak
Escritora, Podcaster e Tiktoker
"Eu terminei a leitura ontem à noite. Meu deus, eu estou obcecada. Eu amo tanto o Machado! E Dom Casmurro pode ser o meu novo livro favorito."
Ao que completa, afirmando que "Dom Casmurro" pode estar desbancando "Memórias Póstumas" do primeiro lugar. A influenciadora também interpreta um importante papel ao dar o devido valor a Machado de Assis, o comparando com Shakespeare, e aos tradutores. Por fim, enquanto uma avaliação inicial após sua primeira leitura, afirma: "Estou no time Capitu. Capitu não traiu. O narrador não é confiável. Ele foi destruído pelo seu próprio ciúmes".
Qual é o papel dos booktokers no mercado?
Os criadores de conteúdo, e em específico aqueles que tratam do assunto de literatura, os famosos "booktokers", desempenham um papel vital no mercado moderno ao atrair e reter audiências, educar e informar o público, fortalecendo marcas através de conteúdos autênticos. Eles promovem engajamento direto com consumidores, influenciam tendências e inovações, além de representar uma diversidade de vozes.
Nesse sentido, um exemplo recente desse tipo de quadro é justamente a publicação do vídeo de Courtney Novak acerca do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", que alcançou mais de 1 milhão de visualizações.
No dia seguinte a divulgação da mídia pela influenciadora, o livro de Machado já havia ocupado o posto de livro mais vendido na categoria 'Literatura Latino-Americana e Caribenha' pela Amazon dos Estados Unidos, desbancando obras como "O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez.
Por que ler Dom Casmurro?
Uma das obras-primas de Machado de Assis, publicada em 1899, Dom Casmurro oferece uma rica e complexa narrativa que gira em torno de Bento Santiago, também conhecido como Dom Casmurro, Capitu, e seu melhor amigo, Escobar. A história é contada pelo próprio Bento, o nosso narrador não-confiável, criando um estudo muito bem pensado de caráter e percepção.
Um marco na literatura brasileira, destaca-se pela sutileza psicológica, pela ambiguidade narrativa e pela crítica social, não deixando de lado a construção de uma relação íntima entre leitor e eu-lírico. Sua capacidade de instigar debates sobre a verdade e a interpretação dos fatos mantém-se relevante até hoje, tornando-o um clássico indispensável.
Machado de Assis
Dom Casmurro, 1899.
"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo."
O que é um clássico?
Para responder a essa pergunta, vamos nos apoiar na obra "Por que ler os clássicos?", de Italo Calvino. Nela, ele traz diversas definições muito pertinentes ao assunto, mas o Clube selecionou a que melhor se encaixa ao tema: "Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes)".
Nesse sentido, conheça mais algumas obras que deixaram marcas na linguagem, na cultura e literatura:
5 clássicos da literatura nacional
Vidas Secas, de Graciliano Ramos
"Vidas Secas" narra a história de uma família de retirantes nordestinos que luta para sobreviver em meio à seca e à pobreza extrema. O livro centra-se na jornada de Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cadela Baleia, enquanto vagam pelo sertão em busca de melhores condições de vida. A narrativa é uma obra-prima do regionalismo brasileiro, que aborda temas sociais e políticos que ainda ressoam na contemporaneidade.
A hora da estrela, de Clarice Lispector
"A Hora da Estrela" conta a história de Macabéa, uma jovem nordestina que vive no Rio de Janeiro. Ingênua e invisível, Macabéa trabalha como datilógrafa e leva uma vida desprovida de grandes eventos ou realizações. O narrador, Rodrigo S.M., medita sobre a existência de Macabéa e seu destino trágico, criando um diálogo entre narrador e personagem que revela profundas reflexões sobre a condição humana e a marginalização social.
Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus
Um poderosa obra que trata do cotidiano na favela do Canindé, em São Paulo. Publicado em 1960, o livro reúne cerca de 20 diários escritos entre 1955 e 1960. Carolina, uma mulher negra, mãe solteira e pouco instruída, narra sua luta pela sobrevivência como catadora de lixo na metrópole. Ela descreve a dura realidade da extrema pobreza e a dificuldade de criar seus três filhos sozinha. A obra alcançou sucesso internacional, não só por seu caráter testemunhal como também por sua escrita única, criando seu espaço entre o cânone literário. Foi também traduzido para treze idiomas e comentado por grandes nomes da literatura brasileira.
Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu
“Morangos Mofados” é uma das obras mais importantes de Caio Fernando Abreu. Publicado em 1982, o livro é uma coleção de contos que se entrelaçam como se fossem um romance. O título combina dois termos contrastantes: morango (um fruto suculento, vermelho e em formato de coração) e mofado (um fungo que corrói a matéria orgânica). Essa dualidade reflete a visão do autor sobre o período vivido pelo Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, marcado pela Ditadura Militar. Os contos exploram temas profundos da condição humana, como solidão, repressão, amor proibido e fracasso. É uma leitura essencial não só para literatura clássica, como nacional e LGBTQIAP+.
Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa
Uma obra épica que narra a saga de Riobaldo, um jagunço do sertão mineiro, e sua trajetória de vida marcada por guerras, paixões e dilemas existenciais. A história é contada em forma de um monólogo, onde Riobaldo revela suas aventuras, suas reflexões sobre o bem e o mal, e seu amor por Diadorim, um companheiro de armas. O livro destaca-se pela riqueza linguística e pela complexidade narrativa, na qual Guimarães Rosa recriou a oralidade e o regionalismo do sertão com uma linguagem poética e inventiva.
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