A crueldade existe e ela é uma realidade concreta, objetiva e que pode ser constatada no cotidiano das negociatas que se fazem no setor saúde.
De um modo geral, as secretarias de Estado da Saúde são o maior objeto de desejo de políticos profissionais, no momento no qual a divisão do bolo entre os partidos aliados que ajudaram a vencer uma eleição se inicia.
Assistimos, todos os dias, aos ataques que são feitos à ministra da Saúde, Nísia Trindade, buscando desqualificar o trabalho que vem sendo realizado com competência e seriedade, por ela e por sua equipe. Os interesses econômicos e as disputas pelo orçamento da saúde sempre estiveram no centro de qualquer debate partidário quando está em questão a distribuição dos espaços de poder que cabem a cada partido aliado.
O caso que ocorreu no Estado de Rio de Janeiro, envolvendo o transplante de órgãos infectados pelo HIV, que afetou definitivamente a vida e a história de pelo menos seis pessoas, não é nem será preocupação real dos responsáveis por essa tragédia.
Provavelmente, não há sentimento de culpa ou de qualquer outro drama pessoal que possa afetar alguém que tenha causado esse tipo de desventura. Ela faz parte do modus operandi de um determinado tipo de ser que há muito se desvencilhou dos princípios e valores que caracterizam o agir ético.
A maldade e a insensibilidade diante do drama humano da miséria e da dor dos mais vulneráveis têm alimentado os desvios de recursos na saúde, inúmeros, que são acompanhados por nós a partir das denúncias que chegam à imprensa. A grande maioria dos desvios nem sequer é noticiada.
O subfinanciamento da saúde é uma realidade, mas os desvios agravam ainda mais a situação. O que aconteceu no caso em tela é apenas mais um demonstrativo do descaso e das negociatas que que se dão nos bastidores da política.
Nada que venha a ser feito reparará a tragédia que se abateu sobre os pacientes que receberam órgãos infectados. A prisão ou qualquer outro tipo de pena que venham a sofrer os responsáveis será nada diante da dor que se impõe aos que terão que conviver cotidianamente com as consequências desse crime, que não é apenas descaso, mas crueldade em seu grau máximo.
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