Artigo escrito com coautoria de Ethel Maciel, pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes
Os economistas, os administradores e os empresários não possuem os conhecimentos e as estratégias necessárias de forma a decidirem questões relacionadas diretamente à condução do controle sanitário da pandemia de Covid-19. Essa decisão deve estar baseada nas evidências científicas das Ciências da Saúde tendo a Epidemiologia como fundamento.
Os gestores maiores das nações democráticas, bem como os governadores, eleitos pelo povo para dirigirem seus destinos com sabedoria e em busca do bem comum, devem, no máximo, guardadas as condicionantes democráticas e após ouvidos os especialistas, tomar as melhores decisões políticas, que respeitem os resultados indicados pela ciência por meio dos discursos emitidos pelos especialistas da área, estes sim, únicos legitimados para a decisão terapêutica e de cuidados de saúde na indicação dos caminhos possíveis e menos gravosos para o controle da pandemia.
Ouvir, dialogar, trocar experiências e analisar as diferentes estratégias de forma a chegar a consensos razoáveis e que respeitem os conhecimentos científicos da saúde, na construção de uma política pública de caráter democrático e justo, faz parte do jogo político.
Impor decisões de saúde divergentes daquelas indicadas pelos especialistas de todo o mundo, como o isolamento social, é, no mínimo, antidemocrático e temerário.
A crise da Covid-19 não tem sua origem no mercado ou na economia. Ela desencadeia crises reflexas nesses setores, mas originalmente ela está relacionada ao setor saúde e, é nele, e por meio de seus especialistas, que a solução deve ser encontrada. Há uma ordem de prioridade a ser seguida. Quem deve indicar os caminhos a serem trilhados são os especialistas em saúde .
Primeiro define-se a prioridade da saúde e a partir dela os caminhos a serem seguidos para a economia. A economia não pode ser a balizadora das decisões em saúde.
Confrontar as narrativas da saúde pró-isolamento social, como único cainho possível para minimizar os ônus para a saúde e para a vida das pessoas, com as narrativas pró-mercado de invalidação do isolamento social como forma de não “quebrar’ o mercado, é perverso e desumano. Nesse guerra de narrativas vivemos o caos articulado de forma sinistra pelos interesses econômicos que teimam em continuar em seu caminho de defensa da morte das pessoas, especialmente dos invisibilizados e de vida do mercado.
Um presidente enfraquecido, louco para uns e articulador para outros, continua a ser utilizado como bobo da corte na construção de narrativas que visam sustentar interesses de grupos econômicos poderosos que nem eles mesmos, do gabinete do ódio são capazes de compreender na exata dimensão da realidade.
O isolamento social, ÚNICA estratégia de saúde pública viável nesse momento, rechaçada veementemente pelo mercado, ávido por mais acumulação, deverá ser bancada pela sociedade, já que na disputa de forças entre os técnicos do Ministério da Saúde e o mercado, tendo como seu garoto de auditório o Presidente da República, controlado pelos militares, pela classe empresarial predatória e por setores religiosos ávidos por poder e dinheiro, a narrativa vai encontrando espaços entre aqueles, da sociedade, que estão preocupados apenas com seus próprios interesses e confortos.
Na individualidade de projetos pessoais que buscam garantir apenas a nossa própria sobrevivência, perceberemos, tarde demais, os riscos de não termos escolhido um dos lados e tentado ficar bem com todos, nos esquecendo que não pode haver disputas entre saúde e economia. As estratégias são necessariamente diferentes.
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Agora é hora dos especialistas da economia mostrarem sua sabedoria e ciência, construindo caminhos viáveis de sobrevivência na crise, deixando aos especialistas da saúde, em suas diversas áreas de atuação envolvidas no processo pandêmico, a tomada de decisões no que diz respeito à garantia do Direito à saúde e à vida das pessoas.
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