No dia 4 de fevereiro, o governo federal decretou emergência sanitária em razão do novo coronavírus. Três dias depois o ministro da Economia em uma palestra para empresários chamou os servidores públicos de “parasitas”. Parasitas ou parasitos são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro, em um processo conhecido por parasitismo. Todas as doenças infecciosas e as infestações dos animais e das plantas são causadas por seres considerados parasitas.
O ministro quis traçar um paralelo entre essa palavra e os servidores públicos. Tendo se desculpado pouco tempo depois, sua fala ainda ecoa em planos de ataque contra os servidores e os serviços públicos.
O que se desencadeou, a partir desse processo, foi uma prova de força a que foram submetidos os servidores públicos. Em condições que ultrapassam todos os limites da adversidade, profissionais de saúde, em todos os rincões do nosso país, não pouparam esforços para prestar cuidados de saúde e orientação à população, colocando em risco suas próprias vidas. Em oito meses de pandemia o Brasil foi o país onde mais enfermeiros e médicos foram dizimados pela Covid-19.
Além disso, professores em jornadas exaustivas utilizando todos os meios possíveis, alguns nada usuais, levaram as atividades escolares aos estudantes sem acesso digital. Servidores públicos da mais alta valia mostraram ao Brasil o conjunto de atividades essenciais e serviços de alta relevância à sociedade.
Uma série de desvios de recursos e outras práticas de corrupção só puderam ser reveladas graças ao trabalho sério de servidores públicos. É fundamental pontuar que essas ações só se efetivaram porque esses servidores têm estabilidade, ou seja, não sofreriam represálias caso denunciassem ações incorretas.
Em todos os Estados, os servidores de universidades e institutos estaduais e federais fizeram a diferença, conduzindo as pesquisas científicas que nortearam as ações de controle na pandemia. Os técnicos concursados do Ministério da Saúde, a despeito de toda a confusão com a mudança de dois ministros da pasta durante a maior crise sanitária, continuaram fazendo um excelente trabalho pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Agora, estão liderando juntamente com pesquisadores de universidades públicas o planejamento para a ação mais importante do século, qual seja, a campanha de vacinação contra a Covid-19 que tenho a honra, como pesquisadora na área de epidemiologia, de participar.
Mesmo depois de tudo isso, fomos surpreendidos por um decreto, do ministro da Economia, que abre a possibilidade de entregar o SUS à iniciativa privada.
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Essa pandemia nos ensinou o valor do SUS, os problemas que precisam e devem ser acertados. Organizações sociais e planos privados que visam lucro devem tirar as garras da saúde. A saúde é um direito do povo brasileiro, garantido constitucionalmente. O que está em jogo aqui é o futuro do país.
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