Pela primeira vez desde julho de 2020, a taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Brasil está fora da zona de alerta, ou seja, com taxas de ocupação inferiores a 60%. Os dados foram informados no boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz, no dia 25 de março.
O boletim ainda emite uma importante preocupação com as desigualdades em saúde. Os pacientes atualmente internados em UTI para tratamento de Covid-19 são em sua maioria homens (51%), pessoas idosas (62%) e pretos e pardos (49%).
Em relação a serem homens a maioria dos internados, temos visto desde o início da pandemia uma diferença de comportamento em relação à utilização de medidas de proteção, mais especificamente do uso de máscaras, medidas que já sabemos bastante efetivas para a diminuição da infecção.
Pesquisadores da Universidade de Middlesex, no Reino Unido e do Instituto de Pesquisa em Ciências Matemáticas, nos EUA, entrevistaram de forma on-line 2.459 pessoas. Os resultados mostram que os homens têm menos pré-disposição em se proteger usando máscara ou outro tipo de cobertura facial quando comparado com as mulheres.
Em lugares em que o uso é obrigatório, a diferença do comportamento entre os gêneros diminui. Umas das justificativas para essa atitude, de acordo com a pesquisa, é que os homens acreditam ter menos possibilidade de serem afetados de forma grave pela doença e, caso se infectem, acreditam que se recuperarão mais rapidamente.
Sobre pretos e pardos temos extensas pesquisas que mostram que a desigualdade social impacta de forma diferente em classes economicamente diferentes. Como no Brasil, um importante marcador social é a raça/cor com diferenças significativas em anos de escolaridade, empregos formais, taxas de desemprego, entre outros.
As pessoas que se autodeclaram pretos e pardos tem historicamente arcado com um ônus diferente e desigual no acesso e cuidado à saúde. Dois estudos no Espírito Santo que analisaram os desfechos de internação e óbito por Covid-19 encontraram maior chance de aconteceram em homens, idosos e de pessoas que se autodeclararam de cor preta. Também há maior chance dessas internações acontecerem em pessoas internadas no sistema público, dado a muitas outras doenças que essas pessoas apresentavam antes da Covid.
Sobre a maior gravidade em idosos, o alerta vem sendo feito desde o fim de dezembro quando o surgimento da variante Ômicron aumentou a taxa de internação entre não vacinados e entre idosos vacinados. Já tínhamos evidências científicas que pessoas imunossuprimidas precisavam de mais uma dose de reforço e o Ministério da Saúde rapidamente publicou uma nota técnica autorizando Estados e municípios a aplicarem a segunda dose de reforço.
Israel, assim que a Ômicron chegou, decidiu estender a autorização de um reforço para as pessoas com 60 anos e mais, o que reduziu em quatro vezes menos a internação nos idosos que se receberam o segundo reforço. No Brasil, de posse dos dados divulgados por Israel, autorizou a administração para todos com 80 anos ou mais e o Espirito Santo se adiantou e, analisando o aumento de internação nas pessoas com 60 anos ou mais, decidiu por proteger todo esse grupo.
Dados de Israel e dos Estados Unidos já informavam que havia uma diminuição de proteção por uma menor resposta do sistema imunológico depois de 4 meses do reforço em pessoas com 60 anos ou mais. Nesse momento, os Estados Unidos estudam a administração para todos com 50 anos do segundo reforço.
Proteger pessoas com diminuição da resposta imunológica como imunossuprimidos e idosos, melhorar o acesso e qualidade da assistência para pessoas usuárias do SUS e principalmente aqueles que se autodeclaram pretos e pardos dada as desigualdades históricas e informar através de campanhas que homens precisam se proteger, pois o comportamento de risco implica em maior adoecimento e mortalidade, é tarefa de nossos gestores.
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Aliado a isso, é preciso reconhecer que a pandemia continua entre nós e a comunicação em saúde precisa ser mais bem estabelecida, não apenas para flexibilizar ações de saúde pública, mas para possibilitar que as pessoas possam fazer melhores escolhas frente ao vírus e a doença causado por ele. O vírus seguirá entre nós e precisaremos de informação para que a ignorância deixe de fazer vítimas.
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