É superintendente regional da Polícia Federal no Espírito Santo, ex-secretário da Justiça e ex-secretário de Controle e Transparência do Espírito Santo, mestre em Gestão Pública pela Ufes

Caso Vini Jr.: não pode haver demora na punição dos racistas

Não se pode acreditar que, por se estar em um estádio de futebol, toda e qualquer postura é aceitável. Infelizmente,  o comportamento da La Liga  é extremamente complacente e acaba por incentivar esse tipo de manifestação criminosa

Publicado em 27/05/2023 às 00h10
Vini Jr marcou dois gols na drande final do Mundial e foi fundamental para o título do Real Madrid
Vini Jr marcou dois gols na drande final do Mundial e foi fundamental para o título do Real Madrid. Crédito: Fifa/Divulgação

O craque brasileiro Vini Jr., do Real Madri foi, novamente, vítima de ataques racistas proferidos pela torcida do time adversário. A partida terminou 1 x 0 para o Valencia, mas, na minha visão, não houve vencedor. Na verdade, o mundo do esporte perdeu com mais uma inaceitável manifestação de racismo contra um atleta negro.

Não é a primeira vez que Vini Jr. sofre com esse tipo de ataque. É a décima vez que ofensas raciais são dirigidas ao jogador de futebol. Desta vez, a exemplo de outras tantas, a torcida cantou músicas em que o craque brasileiro foi chamado de macaco. Atitudes como essa não são e não podem ser encaradas como normais, toleráveis ou inofensivas.

Não se pode acreditar que, por se estar em um estádio de futebol, toda e qualquer postura é aceitável. Infelizmente, no entanto, o comportamento da La Liga (a organizadora do campeonato espanhol) é extremamente complacente e acaba por incentivar esse tipo de manifestação criminosa.

O primeiro ataque desse tipo contra Vini Jr. aconteceu em 24/10/2021, num jogo entre Real Madri e Barcelona. O caso chegou a ser denunciado às autoridades espanholas, mas foi arquivado, já que o torcedor que proferiu os ataques não foi identificado.

Em 14/03/2022, outro ataque ao jogador. Dessa vez, as autoridades arquivaram o caso afirmando não terem constatado crime de ódio. No terceiro episódio, ocorrido em 18/09/2022, num jogo entre Real Madri e Atlético de Madri, as autoridades que investigaram os fatos chegaram a afirmar que os insultos ocorreram dentro da normalidade da rivalidade esportiva e que as agressões racistas duraram apenas “alguns segundos”. Na mesma semana o presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores, Pedro Bravo, afirmou que Vini Jr. precisava deixar de fazer “macaquices”. Disse ainda, que ele precisava “respeitar o rival e se quisesse dançar que fosse ao sambódromo no Brasil”.

No dia 26/01/2023, criminosos travestidos de torcedores praticaram o que talvez seja o pior e mais abominável ataque racista a Vini Jr. Um boneco com a camisa do jogador foi pendurado com uma corda em uma ponte, simulando o enforcamento do atleta. A ação, digna de membros da organização racista americana Ku Klux Klan, chama a atenção pela representação da violência agregada à manifestação racista.

Na última terça-feira, 23/05, a polícia espanhola finalmente agiu. Quatro indivíduos responsáveis pela colocação do boneco foram presosOutros três foram detidos pelos xingamentos proferidos contra Vini Jr. no último jogo entre Real Madri e Valência. Não há o que se comemorar. Parece evidente que a polícia só agiu por causa da onda de indignação que surgiu após os ataques racistas. É absolutamente inadmissível que um país, ou suas polícias, tolerem atos como os que têm massacrado Vini Jr. Casos como esses precisam ser exemplarmente punidos, sem qualquer demora.

Em junho de 2005, portanto, há quase 20 anos, Nelson Mandela disse uma de suas mais célebres frases: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário”.

 Vamos torcer para que o amor sempre prevaleça sobre o ódio. Quando não for assim, que toda manifestação de ódio, de racismo e de violência sejam devidamente apuradas e severamente punidas. E que isso ocorra no menor espaço de tempo possível!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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