Jornalista de A Gazeta há 10 anos, está à frente da editoria de Esportes desde 2016. Como colunista, traz os bastidores e as análises dos principais acontecimentos esportivos no Espírito Santo e no Brasil

"Aquele preto ali": disfarçado de indicação, mas carregado de racismo

Jogadores de PSG e  Istanbul Basaksehir abandonaram partida após o quarto árbitro Sebastian Coltescu ser preconceituoso com Pierre Webó, membro da comissão técnica do time turco. Dia histórico

Vitória
Publicado em 09/12/2020 às 05h00
Demba Ba questiona o racismo do árbitro romeno Sebastian Coltescu
Demba Ba questiona o racismo do árbitro romeno Sebastian Coltescu. Crédito: Reprodução/Esporte Interativo

"Você nunca diz 'esse cara branco', você diz 'esse cara'. Então por que você está mencionando 'cara preto'? Você tem que dizer 'esse cara preto'? Por quê?!". Esse foi o desabafo do atacante senegalês Demba Ba para Sebastian Coltescu, quarto árbitro da partida entre Istanbul Basaksehi e Paris Saint-Germain, válida pela Liga dos Campeões. O assistente foi racista com Pierre Webó, membro da comissão técnica do time turco. Após o episódio, os jogadores se recusaram a retomar o jogo, que deve ser encerrado nesta quarta-feira (09).

Os jogadores das duas equipes protagonizaram um momento histórico na noite de terça-feira (08), que pode ser um marco no combate ao racismo no futebol. A Uefa ainda tentou passar pano no acontecimento e solicitou que os atletas retornassem ao gramado, o que não aconteceu. Não dá mais para engolir o preconceito. Protestos como estes são fundamentais para que muitos possam refletir sobre o assunto.

"Aquele preto ali. Vá lá e verifique quem é. Aquele preto ali. Não dá para agir assim", disparou Coltescu a Ovidiu Hategan, árbitro principal da partida, solicitando uma punição ao camaronês da comissão técnica do Istanbul.

Há quem realmente acredite que o uso das palavras “aquele preto” foi apenas uma forma de indicar quem deveria ser punido. Não foi só isso. A expressão “aquele preto” naquele tipo de situação  está carregada de preconceito. A frase foi pontuada com o objetivo de diminuir o profissional apenas pela sua cor de pele. O quarto árbitro, uma das autoridades da partida, tinha todo o direito de pedir punição a Webó, caso este tenha uma conduta antidesportiva. Mas nesse tom de acusação aí, de quem sente a necessidade em afirmar "aquele preto"!? Não sejamos inocentes. É como protestou Demba Ba. Por que não "esse cara"? Por que tem que vir acompanhado do "preto" justamente na hora de exercer autoridade sobre o outro? Não é de hoje. Infelizmente é cultural, e histórico.

Não é mimimi, não é vitimização. É um grave problema social e que precisa ser combatido. Enquanto muitos acham natural, que não faz mal e não tem nada ver, pessoas pretas sofrem com isso todos os dias. Que o protesto dos jogadores possa fazer muita gente abrir os olhos e entender que a discriminação racial precisa acabar. Que o quarto árbitro tenha a punição devida pelo ato que cometeu, e que assim possamos caminhar para a erradicar essa prática cruel. 

O mundo do esporte, como atinge, milhões de pessoas, tem papel fundamental nessa luta. Recentemente movimentações importantes aconteceram pelo planeta. Jogadores da NBA já se manifestaram, o piloto britânico Lewis Hamilton já se posicionou no elitizado ambiente da Fórmula 1, e nessta terça vimo Demba Ba, Webó, Mbappé e Neymar também mostrando a todos a insatisfação com o preconceito. É isso que deve ser feito.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.