Jornalista de A Gazeta há 10 anos, está à frente da editoria de Esportes desde 2016. Como colunista, traz os bastidores e as análises dos principais acontecimentos esportivos no Espírito Santo e no Brasil

Esporte tem papel fundamental no combate ao racismo

Ao longo da história, clubes e atletas já se mostraram atuantes na luta contra a discriminação racial. Posicionamento é cada vez mais necessário, por exemplo, para evitar discursos como o de Vanderlei Luxemburgo, que minimizou o preconceito no futebol

Publicado em 06/06/2020 às 06h00
Atualizado em 06/06/2020 às 06h01
Muhammad Ali, Jesse Owens, Tomie Smith e primeiros negros no futebol brasileiro
O pugilista Muhammad Ali, os velocistas Jesse Owens e Tomie Smith, assim como o Vasco, fizeram história no combate ao racismo. Crédito: Montagem/Reprodução

morte de George Floyd, segurança negro, de maneira brutal pelas mãos de policiais brancos no dia 25 de maio, em Minneapolis, nos Estados Unidos, levantou uma onda de protestos que durou mais de dez dias pelo país. Além das manifestações nas ruas, a mobilização obteve voz nas redes sociais de vários atletas e celebridades americanas, e ganhou o mundo.

O combate à discriminação racial ganhou milhares de apoiadores e pautou discussões em vários países, inclusive no Brasil. E é justamente por aqui, onde negros também sofrem muito com a discriminação, que precisamos falar mais ainda sobre o assunto. Porque muitas pessoas não tratam o preconceito racial com a importância necessária, acreditam que seja frescura, ou uma forma de vitimização. 

Nesse contexto, a esfera esportiva tem muito a contribuir ao debate. Ao longo da história, clubes e atletas já se mostraram atuantes nesta batalha que perdura há séculos e ainda está longe do fim. No boxe, Muhammad Ali, um dos maiores esportistas que o mundo já viu, foi uma voz forte para os negros desde os anos 60. Assim como os velocistas americanos Tommie Smith e John Carlos, que eternizaram o gesto dos Panteras Negras, no pódio das Olimpíadas de 1968, no México. E é claro, o lendário Jesse Owens, que conquistou quatro medalhas de ouros nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, sob os olhares do nazista Adolf Hitler. Confira esses e outros posicionamentos marcantes ao final desta coluna.

Os feitos de uma geração que lutou muito inspiraram atletas a seguirem neste caminho. Para a juventude negra, manifestações de esportistas de sucesso como Lebron James, Lewis Hamilton e Rafaela Silva são importantes. Prova que há voz e não existem limites para sonhar. O preto já nasce um lutador, e o exemplo o incentiva a não abaixar a cabeça, mostrar seu valor e conquistar seu espaço. E o mais importante: mostrar que não é inferior por causa da cor de sua pele. Algo que deveria ser óbvio, mas que ainda está impregnado na sociedade.

Pensamentos retrógrados assim podem ser percebidos, infelizmente, em vários lugares. Logo, o esporte acaba refletindo o comportamento racista de parte significativa da população brasileira, como foi possível notar na entrevista que o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Palmeiras, concedeu ao jornal Estado de S. Paulo nesta semana. Ao ser questionado sobre o posicionamento de alguns atletas em relação ao racismo, por conta dos acontecimentos recentes, Luxa relevou o preconceito.

“Essa questão aflorou muito nos Estados Unidos. É uma discussão bem doida para se chegar ao consenso. O que houve lá (o norte-americano George Floyd foi morto pelo policial Derek Chauvin durante uma abordagem) foi brutal, foi uma covardia. Eu discuto muito no futebol, que é a minha área. Acho que os atos de racismo no futebol são provocados e eu achava que deveriam ser deixados de lado. Dão muito prestígio, muito moral à maneira como se trata o racismo no futebol. Aquilo, sim, que o cara fez (nos Estados Unidos) é racismo puro. Mas no futebol o cara brincar com o outro, gozar o outro para desestabilizar o camarada, e dizer que aquilo ali é ato de racismo, não sei. Mas é uma discussão longa”, declarou.

Em entrevista ao Estadão, Vanderlei Luxemburgo minimizou provocações racistas no futebol
Em entrevista ao Estadão, Vanderlei Luxemburgo minimizou provocações racistas no futebol. Crédito: Palmeiras/Divulgação

Luxemburgo minimiza a situação. Acredita que racismo é apenas o que mata. Releva as provocações no futebol, ambiente onde jogadores, técnicos e árbitros sofrem com a discriminação explícita. Como assim deixar de lado? Logo você, Luxa, que até “ontem” era técnico do Vasco, time com uma linda história de combate ao racismo. Pelo visto não aprendeu nada.

O treinador do Palmeiras, em seu infeliz posicionamento, afirmou que “é uma discussão bem doida para chegar ao consenso”. Só existe um consenso possível para essa questão: a discriminação racial precisa acabar. Mas até lá falaremos muito disso.

CONFIRA ATLETA E CLUBES QUE SE POSICIONARAM NO COMBATE AO RACISMO

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    Vasco  - Camisas Negras

    O lugar que o Vasco da Gama ocupa na elite do futebol brasileiro tem a marca do time conhecido como "Os Camisas Negras" que, em 1923, com uma campanha arrasadora (11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota), conquistou o primeiro titulo de campeão carioca de sua História. Com jogadores negros em campo, o Gigante da Colina rompeu preconceitos e assumiu de vez a bandeira de luta contra o racismo. 

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    Jesse Owens - O homem que humilhou Hitler

    Sem precisar esboçar uma palavra, o atleta americano Jesse Owens fez história nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, sob os olhares de Adolf Hitler. O negro subiu no lugar mais alto do pódio nas provas de 100 metros rasos, salto em distância, 200 metros rasos e corrida de revezamento 4x100 metros e pulverizou a teoria nazista da supremacia racial ariana.

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    Muhammad Ali - Voz negra contra a discriminação

    A história de Muhammad Ali vai muito além de sua medalha olímpica e de seus títulos mundiais no boxe. O pugilista se tornou voz ativa na luta contra o racismo nos Estados Unidos. Inteligente e politizado, Ali, desde o início da década de 60 não fugiu do debate, sempre questionando a forma como os negros eram tratados no país.

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    Tommie Smith e John Carlos - Panteras Ne

    Os atletas americanos Tommie Smith e John Carlos conquistaram as medalhas de ouro e bronze na prova dos 200 metros rasos, nas Olimpíadas do México, em 1968. Quando subiram ao pódio, os dois abaixaram a cabeça e levantaram os punhos, repetindo o gesto do Panteras Negras, grupo criado para fiscalizar o abuso policial nos Estados Unidos.

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    Diogo Silva - Inspirado nos Panteras Negras

    O gesto realizado por Tommie Smith e John Carlos, no México, inspirou o lutador de taekwondo brasileiro Diogo Silva. Ao conquistar, em 2004, um inédito quarto lugar na Olimpíada de Atenas, ele ergueu o punho em referência aos Panteras Negras.

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    Colin Kaepernick - Símbolo nos EUA

    Colin Kaepernick já foi um dos principais quarterbacks da NFL, principal liga de futebol americano nos EUA, mas ganhou destaque mundial ao se ajoelhar durante a execução do hino nacional americano, em uma partida da Pré-Temporada de 2016. "Não vou me levantar e mostrar orgulho pela bandeira de um país que oprime o povo negro e as pessoas de cor", declarou o atleta após a partida.

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    Rafaela Silva - Desabafo da campeã

    Ao conquistar a medalha de ouro para o judô brasileiro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, Rafaela desabafou ao lembrar das palavras de ódio que recebeu, ao ser eliminada nos Jogos de Londres, em 2012. “Lembrando do sofrimento que passei em Londres, que me criticaram, que eu era uma vergonha para minha família, e hoje eu pude fazer todos os brasileiros felizes com essa medalha aqui dentro da minha casa. O macaco que tinha que estar na jaula em Londres hoje é campeão olímpico dentro de casa e hoje eu não fui uma vergonha para a minha família”, desabafou a atleta ao Globo Esporte.

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    LeBron James - Protesto após morte de George Floyd

    Astro da NBA, LeBron James se posicionou em suas redes sociais após a morte de George Floyd. Ele postou uma foto com a frase: "Não consigo respirar" (tradução em português", em alusão a forma que o segurança negro foi assassinado por policiais brancos.

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