A luta contra o racismo tem que ser uma pauta diária. Não adianta levantar o debate do preconceito racial apenas na semana que antecede, ou mesmo no próprio dia da Consciência Negra, lembrado neste 20 de novembro. E os últimos dias trouxeram mais uma prova que este assunto precisa ser constantemente martelado na cabeça das pessoas. O esporte perdeu a chance de dar um bom exemplo no combate à discriminação.
Na última quinta-feira (18), o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) recuou em uma decisão e decidiu reduzir uma punição motivada por um caso de racismo. Situações como essas são emblemáticas e só reforçam na sociedade que não há tanto problema assim na agressão (física ou verbal) a uma pessoa apenas por ela ter a pele preta. Um pensamento retrógrado e abominável.
No caso em questão, o meia Celsinho, do Londrina, foi chamado de macaco por Júlio Antônio Petermann, presidente do Conselho Deliberativo do Brusque, no dia 28 de agosto na partida entre Londrina e Brusque. O clube paranaense ofereceu provas em que era possível perceber o grito de “macaco” e o time catarinense foi enquadrado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) e respondeu por "ato discriminatório" em julgamento realizado em 24 de setembro. Na ocasião foi punido com a perda de três pontos na tabela da Série B do Campeonato Brasileiro e multa de R$ 60 mil. Júlio Antônio Petermann foi suspenso por 360 dias e multado em R$ 30 mil.
Entretanto, nesta semana o STJD aceitou recurso do Brusque e devolveu os três pontos ao clube. Simplesmente a parte mais emblemática da punição. Aquela que coloca um asterisco na tabela do campeonato e informa que os pontos foram perdidos por conta de um ato racista. A punição que serviria para todos entenderem que não há espaço para a discriminação racial no futebol brasileiro.
Restou ao clube a perda de um mando de campo, a ser cumprido em campeonato nacional e a multa, que será paga sem fazer nenhuma diferença no orçamento do clube. O dirigente também vai pagar sua multa com tranquilidade e daqui a pouco estará de volta aos estádios como se nada tivesse acontecido. Pouco. Muito pouco para um problema tão grave que insiste em se manifestar não só no futebol, mas em todas as esferas sociais.
Que as campanhas da CBF (como no vídeo acima), dos clubes e dos jogadores possam atingir cada vez mais pessoas. Porque é preciso entender que o caso de Celsinho infelizmente não é isolado. O racismo insiste em se fazer presente nos gramados. De acordo com o Observatório de Discriminação Racial do Futebol, foram 31 registros em 2020 e 41 registros até o início outubro deste ano no Brasil. E isso em um recorte pequeno da nossa sociedade. Imagine esse número nas periferias de um país de dimensões continentais.
O preto não aguenta mais sofrer com o preconceito que fere e mata. É preciso dar um basta. Não dá mais para se calar. Por isso falamos ontem, falamos hoje no Dia da Consciência Negra e seguiremos falando até isso acabar.
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LUTA CONTRA O RACISMO NO ESPORTE
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