Alvo de ofensas racistas no domingo (13) na partida entre Paris Saint-Germain e Olympique de Marselha, Neymar pela primeira vez em sua carreira se mostrou revoltado com a situação. O craque se posicionou em suas redes sociais, onde deixou claro sua insatisfação com o episódio, e ressaltou a importância do combate ao racismo. Atitude necessária para uma luta que é diária em todos os cantos do mundo.
Entretanto, como Neymar é um fenômeno midiático, e que possui um histórico de situações em que deixou o preconceito “passar batido”, há em muitos a desconfiança de que o posicionamento do jogador seja para surfar na onda de um momento em que os protestos pelas vidas negras ganham visibilidade em todo o mundo. Um questionamento válido até certo ponto, que, na verdade, reforça a cultura social de questionar a vítima em qualquer situação, ainda mais quando se trata de minorias.
É preciso deixar claro que Neymar é vítima de uma conduta abominável. Nenhuma pessoa deve ser diminuída, julgada ou desconsiderada pela cor da sua pele. Racismo é crime. Se ele resolveu se manifestar, ótimo, pois está em seu direito. E que bom perceber que depois de anos, o jogador se sentiu à vontade para protestar.
Em 2010, aos 18 anos, em entrevista ao Estadão, Neymar foi questionado se foi vítima de racismo em alguma situação. O então “Menino Ney” respondeu: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né? Esse é um dos momentos mais lembrados por quem acredita que o atacante ainda pensa assim, por mais que dez anos já tenham se passado. Tempo mais do que suficiente, principalmente pela vivência que o jogador acumulou, para que hoje ele pense diferente.
Neymar também sofreu com o racismo em um amistoso da Seleção Brasileira contra a Escócia, em 2011, quando jogaram uma banana no gramado em sua direção. Em 2014, com a camisa do Barcelona, foi insultado pelos torcedores de seu próprio clube, que imitaram macacos quando viram o brasileiro.
Nessas ocasiões, Neymar apenas se pronunciou firme quando a Federação Escocesa pediu que o atacante se desculpasse por acusar a torcida do país de um ato racista, quando ficou comprovado que um alemão que atirou a banana no gramado. “Em momento algum, mesmo no final da partida, ainda envolvido pela emoção de marcar os dois gols que definiram o placar do jogo, acusei qualquer pessoa, ou qualquer grupo de torcedores, de qualquer nacionalidade, de ter cometido tal ato. (…) Disse, sim, lamentar o fato, pois condeno toda e qualquer ação preconceituosa, mas, reitero, em momento algum acusei quem quer que fosse. Por isso entendo que não tenho o porquê de me retratar”, respondeu à época.
Como atleta que está sempre sob os holofotes e com um alcance midiático assombroso, o atacante brasileiro provavelmente foi orientado durante boa parte de sua trajetória a não tomar partido de nada, a evitar polêmicas e a preservar sua imagem. Mas se hoje, o momento o encoraja a se posicionar é sinal de que ele entendeu o que tudo isso significa. Mostra que as dezenas de manifestações, como as de Lewis Hamilton na Fórmula 1 e de Lebron James e tantos outros atletas da NBA, estão surtindo efeito.
A indignação de Neymar é legítima. Que o jogador possa usar seu espaço para ser mais uma voz ativa nessa luta tão importante. A discussão deve girar em qual será a punição ao zagueiro Álvaro González, responsável pela ofensa. Isso não pode passar.
PUNIÇÃO PELA AGRESSÃO
No aspecto esportivo Neymar deve ser cobrado. Não podia ter agredido o adversário. Tomou cartão vermelho no ato e agora ainda será julgado e receber nova punição pelo seu ato. Justo.
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