Natural de Caicó (RN), mas capixaba de coração, Paulo Wanderley Teixeira assumiu a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em outubro de 2017. Hoje, pouco mais de dois anos à frente da entidade, após assumir o comando em um momento conturbado, o presidente faz um balanço de sua gestão, que desde o início teve que apresentar respostas para os mais diversos desafios.
O potiguar, que se mudou para o Espírito Santo aos cinco anos, construiu boa parte de sua trajetória esportiva no Espírito Santo. Foi por aqui que ele se dedicou ao judô, comandou a Federação da modalidade e se destacou até assumir a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), onde esteve à frente por 16 anos. Depois atuou como vice-presidente do COB, e assumiu a presidência após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, que chegou até a ser preso durante Operação Unfair Play.
Paulo Wanderley conversou com a coluna Filipe Souza sobre a renovação do COB, o delicado momento financeiro do esporte brasileiro, os bons resultados nas últimas competições internacionais, a mudança da sede da entidade, recentes casos de doping e sobre a expectativa para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
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Presidente, como o senhor avalia sua trajetória à frente do COB nesses dois anos?
Nesses últimos dois anos realizamos mudanças de cima para baixo. Mudanças necessárias para colocar o esporte olímpico na rota onde deveria estar. Aconteceu um redimensionamento da estrutura do COB, não só no vertical quanto na horizontal. Reduzimos a força de trabalho sem diminuir a qualidade. Desenvolvemos práticas de boa governança. Também aproximamos os atletas do comitê com a aprovação do novo estatuto. Hoje nós temos uma participação bastante efetiva dos nossos atletas, a comunidade participa dos processos do comitê olímpico.
Sua gestão começou após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, que chegou a ser preso durante a Operação Unfair Play. Foi um momento em que a credibilidade do COB foi questionada. Hoje, como está a imagem do comitê?
O esporte tem altos e baixos. Viemos em uma situação atípica. Se é que tínhamos perdido a credibilidade em parte, isso já foi recuperado. Primeiro recuperamos nossos direitos no Comitê Olímpico Internacional (COI) e com ações, eventos e os bons resultados dos nossos atletas, mostramos que estamos no caminho certo.
O Governo Bolsonaro extinguiu o Ministério do Esporte, que se tornou em uma secretaria no Ministério de Cidadania. Recentemente, o presidente enviou ao Congresso Nacional a proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020. Para a área de esportes deve ser destinado R$ 220 milhões. Uma queda de 49% com relação a este ano. Qual é o impacto dessa medida?
Nosso relacionamento institucional com o governo é muito bom. Não temos nenhum tipo de dificuldade com as mudanças que aconteceram no governo federal. Com relação a situação financeira do COB, o corte não nos atinge. O comitê tem um recurso designado por lei que vem das apostas nas loterias federais.O percentual de apostas determina se ganhamos mais ou menos, e isso não passa pelo orçamento do Governo.
Mas há uma preocupação com os programas do governo federal que auxiliam atletas?
Ninguém gosta de perder recursos. O órgão mais sensível do corpo é o bolso. Vai acontecer um impacto nesse sentido, na parte competitiva. Afeta as entidades esportivas que possuem convênios com o poder público, que vão ter maior dificuldade e menos recursos. Bolsa Atleta e Bolsa Pódio podem ser afetados. Com orçamento reduzido, provavelmente vão reduzir investimentos nos atletas que dependem desses recursos.
O Brasil bateu recorde de medalhas nos Jogos Pan-Americanos do Peru. A sensação é de dever cumprido?
É a satisfação de uma missão bem cumprida. Fiquei muito feliz com o desempenho dos nossos atletas, que superaram todas as marcas anteriores. É um trabalho importante das delegações. Também fomos muito bem nos Jogos Mundiais de Praia.
O Rio de Janeiro sediou os últimos Jogos Olímpicos, e a delegação brasileira teve direito a mais representantes e fez uma bela campanha: sete ouros, seis pratas e seis bronzes, 19 no total. Qual a expectativa para os Jogos de Tóquio, em 2020?
A prerrogativa de realizar os Jogos no próprio país faz fugir de processos qualificatórios. Você também já ganha por estar em casa e não precisar de aclimatação, e também é claro tem o apoio da torcida. Agora vamos para outro continente. Por isso temos desenvolvido ações há dois anos. Competições no Japão para aclimatação, até em países próximos, com climas parecidos. Ainda não temos uma convicção de número de medalhas. Nosso maior parâmetro são os resultados de mundiais e estamos indo muito bem. Tudo caminha para uma participação expressiva. Nossa expectativa é de superar o quantitativo de medalhas de 2016.
Recentemente, a judoca Rafaela Silva foi flagrada no exame antidoping. Há um cuidado do COB com relação a prevenção e orientação dos atletas?
Há mais de um ano criamos uma área de educação e prevenção ao doping. As delegações são orientadas por meio de cursos e palestras. Assim eles sabem o que podem e o que não podem fazer, o que afeta o rendimento. Todas as indicações são feitas pela equipe médica.
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