Início da madrugada de terça-feira (20) aqui em Doha, dia de voltar para casa. Separando as roupas sujas das limpas, guardando as lembrancinhas, escolhendo a roupa da longa viagem de 14h para São Paulo e para o chá de aeroporto de 13h em Guarulhos até finalmente embarcarmos para Vitória, se assim a greve dos funcionários dos aeroportos nos permitir.
Mas na cabeça passa um filme de tudo que eu e Vitor Jubini vivemos por aqui. Foram 32 dias de intenso trabalho. Uma cobertura dividida entre o futebol na Copa do Mundo e curiosidades do país do Oriente Médio. Textos no site, entradas nas rádios de A Gazeta, lives nas redes sociais e inserções na TV Gazeta. Ufa! Deu trabalho, mas foi bom demais vivenciar uma cultura completamente diferente da nossa.
Com a cabeça mais tranquila após esse turbilhão de emoções é mais fácil falar do país que abriu suas portas para a Copa do Mundo. E com 10 minutos de bola rolando no Mundial deu para perceber que futebol não é o forte dos cataris, não à toa são os donos da pior campanha da competição. O único objetivo da Copa por aqui foi abrir as portas do mundo árabe e sua cultura para o planeta. Tentar desconstruir uma imagem de intolerância ao diferente e mostrar a todos os povos que é possível confraternizar e ser feliz no Oriente Médio.
O Catar tem sua população estipulada em quase três milhões de habitantes, sendo que 85% são imigrantes em sua maioria de Bangladesh, Índia, Paquistão, Nepal e entre outros países da Ásia e da África. Ou seja, um país onde os locais são muito reclusos, quase não são vistos. para encontrá-los você tem que estar em áreas nobres. Enquanto isso, os imigrantes movem o país com sua força braçal nos subempregos. A exceção são aqueles que vem contratados pelas grandes empresas que estão chegando ao mundo árabe.
Mulheres no Catar
A Copa do Mundo passou pelo Catar, e o clima de festa ficou por conta dos turistas do mundo inteiro e dos imigrantes que vivem no país que são apaixonados por futebol, principalmente por Brasil e Argentina, por conta de grandes estrelas do futebol como Messi e Neymar, e pelo histórico de serem os dois países colonizados que conseguem bater de frente com seus colonizadores no gramado. Realidade até então distante de seleções africanas e asiáticas, que foi quebrada pelo Marrocos, grande sensação do torneio e que contou com torcida fervorosa na arquibancada.
No mais, turistas, em sua maioria muito ricos e divertiram no Catar. O Soaq Waqif, principal mercado e centro cultural de Doha, foi sinônimo de festa. Um verdadeiro ponto de encontro de torcedores do mundo inteiro, que confraternizaram no local . Foi a verdadeira beleza da Copa, o futebol e a alegria que ele leva em sua essência. Tudo protagonizado por quem já vive o esporte em seu país, inclusive os 40 mil argentinos que desembarcaram por aqui e viram sua seleção conquistar a taça. Um show à parte na Copa.
Mas quem se divertiu, ou tem muito dinheiro, ou teve que se preparar muito financeiramente para a viagem. O Catar é um país caro. Hospedagem, alimentação, diversão, bebida alcoólica e demais atrações não estão a preços acessíveis. Há opções baratas? Para algumas coisas, sim, mas está longe de ser a regra. Brasileiros gastaram entre 20 mil e 100 mil reais para curtirem a Copa, entre os que viram pouco e os que ficaram durante todo o torneio.
Longe do glamour e da euforia dos oito estádios que receberam os 64 jogos da Copa, o país tem uma série de problemas. Abuso e mortes dos trabalhadores que atuaram nas obras das arenas, desrespeito e intolerância com pessoas LGBTQIA+, tratamento inadequado com mulheres estrangeiras. Durante a Copa vimos vários relatos de mulheres que foram seguidas ou filmadas, e até abordadas de forma invasiva.
A impressão é que o Catar foi maquiado e que a Copa do Mundo afrouxou o rigor. Assim, os turistas puderam curtir o momento. Mas se tem algo muito positivo a se destacar é a sensação de segurança. Inimigos do fuso-horário local, eu e Jubini andamos pelas madrugadas tranquilamente e sem preocupação com violência quando saíamos para fazer um lanche ou ir ao supermercado na cidade que não dorme.
Sem dúvidas é um país controverso, que tem muito a melhorar, mas que tem muito a oferecer também. Não posso negar que fomos bem tratados na maioria dos ambientes, aprendemos sobre uma cultura encantadora, visitamos lugares lindos que se dividem entre a tradição e a modernidade, e conhecemos pessoas admiráveis no dia a dia. Sem dúvidas vivenciamos uma experiência que levaremos para a vida.
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