Copa do Mundo nunca foi, não é, e nunca será só futebol. A cada quatro anos o grande público tem acesso a um choque cultural para poder se lembrar disso, e também se divertir e conhecer um pouco mais com as práticas e costumes de vários povos e países.
No caso do Brasil, a alegria da dança está sendo levada ao mundo todo a cada gol da Seleção na Copa. O momento mágico do futebol tem sido celebrado pelos jogadores com gingados e sorrisos que encantam uns, mas que incomodam a muitos. Tanto, que na coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (08), o técnico Tite mais uma vez foi questionado pela mídia internacional sobre a irreverência de sua equipe nas comemorações. E o treinador foi categórico em sua resposta.
"Não é minha Seleção. É a Seleção Brasileira, que tenho responsabilidade de ser técnico. Eu lastimo muito e não vou fazer comentários de quem não conhece a história e cultura do Brasil, o jeito de ser. É a cultura brasileira, e ela não vai desmerecer nenhum outro. É a nossa forma de ser."
É isso. É a nossa forma de ser. No Brasil, a maioria da população é formada por negros (pretos e pardos). Um povo que foi retirado de seu continente, escravizado em um país muito longe de sua origem e que quando não estava trabalhando em condições desumanas ou apanhando de seus senhores, conseguia se reunir e ainda ter forças para celebrar por meio da dança. Aos som dos tambores e entoando cânticos, os pretos, em seus poucos momentos de alegria, dançavam. Dançar sempre foi um ato de resistência.
Os jogadores brasileiros, em sua grande maioria vindos das favelas e das periferias, dançam. É simples assim. Um traço cultural de quem hoje pode se expressar livremente. Fieis às suas raízes, dançam na Copa do Catar para o mundo inteiro ver. Mas a alegria e o sorriso largo incomodam. Incomodam àqueles que sempre ditaram às regras do mundo. Não é a primeira vez que se irritam com a dança dos brasileiros. Também é assim nos principais campeonatos europeus.
Aqui no Catar, a camisa amarela da Seleção Brasileira é sinônimo de alegria. Alegria não só dos brasileiros, mas também de indianos, etíopes, tunisianos, bengaleses, paquistaneses, afegãos e milhares de africanos e asiáticos que escolhem a Seleção não só por sua linda história no futebol, construída por ídolos mundiais como Pelé, Romário, Ronaldo, Ronaldinho e hoje Neymar, mas também por conta do Brasil ser um dos poucos países colonizado e que dentro de campo consegue superar o colonizador. Africanos e asiáticos se sentem representados quando o Brasil está em campo.
Não à toa a campanha do Marrocos é uma das mais celebradas aqui em Doha. Um segurança nigeriano me perguntou o resultado de Espanha e Marrocos, quando respondi que a seleção marroquina avançou ele abriu um largo sorriso. No Catar, país onde os imigrantes africanos e asiáticos abundam nos subempregos, o segurança nigeriano ficou feliz por uma seleção africana, mesmo não sendo a de seu país, ter avançado. Uma irmandade construída em quem se vê no outro.
Por outro lado, europeus, tanto ex-jogadores e jornalistas, claro que não são todos, ficam com esse papo de desrespeito ao adversário e soberba. Gostam de ser respeitados, mas desrespeitam a alegria e a cultura alheia. Nenhuma novidade. Sabemos que isso tem nome. E que bom que nossos jogadores seguem dançando e resistindo.
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