O ano de 2022 inicia com o reconhecimento da Síndrome de Burnout como doença ocupacional na Classificação Internacional de Doenças (CID11) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela atinge pessoas cuja vida profissional e pessoal são muito atribuladas, em especial as que levam jornadas duplas.
Definido como uma "síndrome psicológica em reação a estressores interpessoais crônicos no trabalho", o burnout está relacionado com o excessivo esforço físico, mental ou emocional, seguido de poucos momentos de descanso ou descontração. Tudo que ocupa muito o seu tempo e acaba sugando a sua energia, pode ser motivo para que o burnout apareça.
Entre os principais sintomas, estão: a sensação de esgotamento, os sentimentos negativos relacionados ao trabalho, e a eficácia profissional reduzida.
Em 2020, houve uma alta de 26% do número de concessões de auxílio-doença e de aposentadorias por invalidez decorrentes de problemas de saúde mental. Uma pergunta importante é a seguinte: Síndrome de Burnout na empresa virou doença, mas a carga mental que as mulheres sofrem dentro de casa, não?
Sabe a razão disso? O burnout é responsabilidade das empresas, que precisam desenhar soluções e mecanismos de prevenção. No final, elas vão pagar por isso. Impacta o relevo orçamentário com medidas de cuidado a educação e saúde emocional dos colaboradores e até indenizações quando comprovados nexos causais: a doença começa no trabalho. Hoje isso é real e não existe mais espaço para esquivas de preconceito.
Mas e a carga mental? Quem pagaria? Os maridos, as famílias? Os sintomas são exatamente os mesmos!
A carga mental é a tarefa invisível das mulheres de que ninguém fala! O trabalho de planejamento, organização e tomada de decisões em casa é assumido principalmente por mulheres. Um trabalho não reconhecido que pode aumentar o estresse e que é a base de muitos sintomas.
A carga mental é silenciosa e essa característica a torna duplamente pesada. A sociedade não a reconhece porque não valoriza nem remunera o trabalho doméstico, apesar de ser um pilar fundamental da economia.
Quanto valeria a invisibilidade do trabalho feminino no lar? O Instituto Locomotiva avaliou que custaria 1 trilhão de reais aos cofres públicos.
Mesmo num cenário em que 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, 82% dos afazeres de casa ainda são realizadas por elas, algumas em dupla jornada e outras tantas — 40 milhões — tendo como única atividade o trabalho doméstico não remunerado.
Carga mental: “se você tivesse me pedido... eu faria pra você “!
Carga mental é isso! É a sobrecarga colocada sobre os ombros das mulheres. As mulheres não precisariam pedir, elas não precisariam de ajuda se as tarefas fossem divididas de forma igualitária. A sobrecarga pode adoecer, causando stress irritação, depressão, obesidade, alergias, medos, insônia e ansiedade.
Quanto custaria para cuidar das crianças sozinha, cozinhar diariamente pra família e desenvolver os serviços domésticos (como fazer as compras de suprimentos e levar as crianças na escola)? O acúmulo de todas essas tarefas tem um valor? A mulher dona de casa ou que vive a dupla jornada terá direito a aposentadoria ou benefícios de afastamento remunerado caso adoeça?
Na prática, por mais que homens lavem a louça ou varram a casa, listar, planejar e garantir os suprimentos mínimos para que tudo aconteça segue como responsabilidade da mulher. Elas trabalham fora e dentro de casa, até triplas jornadas incluindo sábados e domingos!
Empoderaram as mulheres e elas vivem a conexão entre mundo privado (casa e família) e público (mercado de trabalho) todos os dias! Agora só falta empoderar os homens para as tarefas da casa.
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