É psicológa, pedagoga e teóloga com doutorado pela PUCSP. Se tornou uma cientista do comportamento para compreender o que move os relacionamentos humanos

Sobre os trajetos da guerra em nós

Os próximos anos serão de crescente sofrência de Quadros do Pânico - que é a patologia do desamparo e da desesperança apavorada. Pessoas “dormentes” em seus caminhos contributivos para com o próprio óbito dos sentidos

Publicado em 31/03/2022 às 02h00
POL - RÚSSIA/UCRÂNIA/INVASÃO/FUGA/POLÔNIA - INTERNACIONAL - Pessoas fugindo do conflito na Ucrânia chegam à fronteira de Medyka, no sudeste da   Polônia, na fronteira com a Ucrânia, nesta segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022.   Dezenas de milhares de ucranianos estão migrando para países vizinhos para fugir   da invasão russa.
Pessoas fugindo do conflito na Ucrânia chegam à fronteira de Medyka, no sudeste da Polônia, na fronteira com a Ucrânia. Crédito: VISAR KRYEZIU/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

“Os dias são maus”, e nos tornamos vizinhos das visões do Apocalipse, uma rota impera: o pavor do fim! Nossa finitude grita. Por esta razão, não somente somos atormentados pelas pulsões da morte que brotam como fontes existenciais, mas também, de súbito, nos vimos abraçados pelo luto coletivo, sendo que fomos avisados de que o globo estava em rota cambaleante, exausto e abusado; e poderia vir a ter seus poderes abalados e caotizados.

Ora, a junção da fobia interior da morte individual com um cenário catastrófico do despenhadeiro comunitário, tem produzido, nas almas humanas, as maiores misérias, fragmentações, hesitações e pavores jamais antes sentidos por nenhum de nós.

O futuro está derramando convulsões, ações de guerra, nação contra nação, contorções naturais, ondas que desordenam as autoridades políticas e fumaceira que cobre nossa lua, há adoecimentos e lesões perenes. Os próximos anos serão de crescente sofrência de Quadros do Pânico - que é a patologia do desamparo e da desesperança apavorada. Pessoas “dormentes” em seus caminhos contributivos para com o próprio óbito dos sentidos.

Urge, sem proselitismo, sermos sal da terra imunda e luz do mundo fúnebre; e cujo futuro sombrio, não é citado por profetas nômades do deserto, mas por cientistas empiristas. Portanto, com dados estatísticos  e evidências calculáveis.

No mais, todos sabem que o mundo acaba sempre. Tem seu desfecho  todos os dias para milhares de pessoas. A morte é o cataclismo desta existência. O que nos resta como fonte de aguardo do porvir? Em tempos de guerra, como nos portar?

A via da total calma, do controle da ira, do desespero, do revide, da explosão do enfrentamento, o único poder que vence o mal, o abismo, é o poder do amor solidário.

O reconhecimento do significado da dor coletiva é em si potencialmente capaz de  romper e interromper com a agenda do caos. Solidariedade é o ato de ser atraído  para todos irremediavelmente, para apoiá-los, sem olhar a quem. Que usemos de palavras e atitudes para fazer reviver o que em agonia e asfixia se encontra.

A solidariedade estanca fluxos que terminariam na cova e nas sepulturas. Prantos inconsoláveis sendo visitados pela ação do amor ao próximo na consolação. A solidariedade é a voz simples da cooperação que chega ao carente. 

Abrace seus filhos, ame a natureza, ensine-os a preservarem a si mesmos e ao planeta; ame sua mulher e esposo com ternura; seja amigo e generoso com os adversários; perdoe a quem lhe deve; ore por quem o persegue; viva a consciência da misericórdia. Misericórdia antes  de tudo  para consigo. 

Você receberá (só-mente) na proporção que ofertar. Aqui opera-se a lógica do soli-dar!

A solidariedade para trajetos caóticos, levanta a esperança humana e reafirma a boa nova do amanhã consciente da nossa finitude que não será roubada (facilmente) por nenhuma guerra. 

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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