A mitologia grega é marcada por histórias que buscam explicar o mundo, os seus acontecimentos e as manifestações da natureza através de personagens divinos, mas que carregam e vivem todos os vícios e virtudes humanas.
Dentre tantas alegorias que nos retratam, uma delas conta sobre o amor de uma deusa e um mortal... Nesta versão (porque toda história tem várias versões!), Eos era a deusa do alvorecer, aquela que todos os dias se renova. Formosa e de uma beleza ímpar, Eos era cobiçada por todos os deuses.
Ares, o Deus da Guerra, quis conquista-la, despertando com isso, os ciúmes de Afrodite. Nessa trama, como castigo, Afrodite fez com que Eos se apaixonasse por todos aqueles que cruzassem os seus caminhos. Com isso, ela teve inúmeros casos de amor, com muitos deuses e jovens mortais... até que se enamorou perdidamente de Títono.
Com ele, Eos teve dois filhos e, diante da condição humana de seu esposo, recorreu a Zeus, o deus dos deuses, para que desse a Títono a imortalidade. Contudo, entorpecida de amor, Eos esqueceu-se de pedir também a Zeus a juventude eterna para o seu consorte.
Dotado da imortalidade, mas desprovido da juventude, Títono seguiu o caminho do envelhecimento humano, e as marcas do tempo o tornaram cada vez mais limitado e pequeno. E quando enfim não podia mais se mover, então Eos o transformou em um gafanhoto, o mais musical dentre os insetos, para que pudesse assim continuar ouvindo a voz de seu amado.
De lá para cá, Eos (ou Aurora na mitologia romana!) todas as manhãs chora gotas de orvalho pelo destino de Títono...
Nessa história, ou melhor, na história da humanidade, sempre sonhamos (e todo sonho versa sobre desejo!) com a possibilidade da eternidade. Como seria se pudéssemos a imortalidade (e a juventude eterna!) dos deuses gregos? Como seria se jamais chegássemos perto dos desafios da velhice e de nossa finitude?
Desde as fontes, poções e elixires que prometiam a juventude nos tempos mais remotos, até as pílulas e tratamentos anti-idade praticados na atualidade, a tentativa de enganar o tempo (ou a Cronos, como diriam os gregos mitológicos!) nos mantendo jovens, se coloca também como um grande empreendimento de nos afastar da fase que nos faz lembrar que a vida tem fim.
Contudo, nesse contexto, ao que tudo indica, o intento de prolongar a nossa existência tem dado certo e temos tido (sim!) mais tempo de vida. Sim, estamos vivendo cada vez mais!
Pra se ter ideia, por aqui, a nossa expectativa de vida ao nascer saltou de (pasme!) pouco mais de 34 anos em 1922 para aproximadamente 76 anos em 2023 , segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, podemos dizer que “ganhamos” 42 anos de vida em um século.
Sim, ganhamos mais tempo de vida, mas o quanto desse tempo tem sido acompanhado daquilo que nos sobra na juventude?
A imortalidade representa os anos vividos; a juventude por sua vez, traz à lembrança da manutenção de nossa vitalidade, autonomia, independência... Mas à medida que esticamos o tempo de nossa caminhada por aqui, de que forma estamos alcançando a longevidade!? Como temos chegado aos 70, 80, 90, 100 anos?
Na busca por essas respostas, a história de Títono nos faz lembrar que a imortalidade não é garantia de vitalidade. E que tempo de vida não é sinônimo de capacidade de viver bem. Porque a longevidade não é dada apenas pelos anos vividos, mas também, e principalmente, pela vida que se leva ao longo desses anos.
Envelhecer e viver muito. É sobre isso que nós vamos conversar toda semana por aqui.
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