Me diz uma coisa, você se sente ou já se sentiu mais jovem do que o tempo contado desde a sua data de nascimento? Ou o contrário: já se percebeu mais velho do que mostra a sua carteira de identidade?
A sensação, é de como se “a cabeça não acompanhasse o corpo” e assim a idade numerada a partir dos anos vividos parece não nos representar, não é mesmo?!
E aí, nessa incongruência, claro, se torna comum nos sentirmos diferentes daquilo que seria esperado (socialmente) para a nossa idade.
Mas calma, se você passa ou já passou por isso, saiba que você não está só nessa empreitada.
Que cada pessoa envelhece à sua maneira, você já deve ter notado. É só olhar a sua volta e ver como cada um de nós, entre familiares e amigos com idades próximas, está envelhecendo. Diferentes de você, diferentes uns dos outros, e cada um a seu ritmo.
Nessa paisagem, algumas pessoas parecem estar quase imunes, ao menos na aparência, às marcas do tempo. Outras se beneficiam dessa passagem, enquanto algumas apresentam muito mais “sinais de desgaste que o esperado” e contam, de forma desproporcional, mais marcas que o tempo poderia ter deixado ao longo dos anos percorridos.
Hoje, já sabemos que essas nuances se devem, principalmente, ao contexto em que cada um está inserido, no qual os hábitos e o estilo de vida adotados (que vão para muito além dos fatores genéticos), é que vão ditar o ritmo do envelhecimento.
Mas, e se eu te disser que não só nos diferenciamos uns dos outros, de indivíduo para indivíduo, como também o nosso próprio corpo envelhece de forma distinta, também digamos assim, de um órgão para o outro, de célula para célula. Como isso chega pra você?
Será que isso explicaria (em partes) as nossas ambivalências na percepção e a vivência de nossas idades? Será que nisso, os fatores biológicos estariam na base de nossas questões subjetivas influenciando (e/ou sendo influenciados) por nossos papéis sociais ao longo de nosso envelhecimento? Também e, talvez sim!
É como se cada parte de nós respondesse à sua própria maneira àquilo que vivemos, ou seja, ao processo de envelhecimento. Sua pele envelhece a uma velocidade distinta de seu cabelo, que envelhece a um ritmo diferente de seu fígado, de seu pulmão, de sua psique...
Ora, se cada “pedaço” nosso envelhece distintamente, podemos dizer que o tempo contado a partir da nossa data de nascimento já não é mais o fator determinante para a avaliação do nosso envelhecimento individual, correto?!
Nesse contexto, atualmente, podemos então falar não só em uma única idade, mas sim em diferentes idades que cada um de nós carrega em si. Cada uma vai trazer consigo uma “contagem” distinta, ora possível de medir, ora intangível!
Para entender um pouco mais essa história, vamos falar aqui de quatro idades que nos acompanham.
A “idade etária”, nossa boa e velha conhecida, não carece de grandes explicações e é contada a partir das velas dos bolos que sopramos até aqui, e em termos de sua mensuração, pouco muda (matemática básica!).
A chamada “idade social”, por sua vez, é aquela que nos atribui lugares e papéis sociais esperados, os quais devemos desempenhar a cada época de nossas vidas: as roupas e hábitos esperados para a infância, fase adulta ou para a velhice, por exemplo. Respondemos então, às expectativas sociais desse relógio estabelecido de maneira tácita e coletiva e variável em acordo com todas as mudanças e adaptações sócio-culturais e históricas.
Há ainda a “idade biológica”, mais falada recentemente com a intensificação das pesquisas sobre longevidade. Essa, tem a ver com o estado de funcionalidade/conservação de seu organismo e pode ser “medida” por meio de um exame de sangue, chamado telomerase. Ele avalia os telômeros (a capa que se situa em torno do cromossomo) e é realizado uma média da idade celular que, posteriormente, é comparado com a idade cronológica.
Por fim (aqui nessa nossa conversa) temos a “idade subjetiva”, compreendida como um conceito multidimensional, ela refere-se a percepção que cada um tem quanto a sua própria idade, apontando exatamente para essa sensação que falamos logo aí no início nos primeiros parágrafos.
Estudos apontam que essa discrepância entre a idade real e a idade subjetiva é uma característica que se manifesta ao longo de toda a vida, e que apresenta variações ao longo do tempo. Pesquisadores descobriram que pessoas mais jovens tendem a perceber a si mesmas como sendo mais velhas do que sua idade etária, enquanto indivíduos mais velhos costumam descrever a si mesmos como sendo mais jovens. Um estudo de 2006, indica que a transição entre essas tendências ocorre por volta dos 25 anos, e a partir dos 40 anos, as pessoas geralmente se percebem como sendo, em média, cerca de 20% mais jovens.
As pesquisas demonstraram que quanto mais velhos ficamos, mais jovem tende a ser nossa idade subjetiva. Contudo isso tem estreita ligação com a “sensação” de boa saúde física, o que se relaciona com a ideia da manutenção de dois conceitos essenciais no processo de envelhecimento: autonomia e independência.
Bom, diante disso, como já pressupunhamos empiricamente, a idade sentida, pode sim ser muito diferente da idade contada a partir das nossas identidades.
E assim, frente às nossas possibilidades, ou melhor, nossas possíveis idades, uma conclusão se apresenta: o envelhecimento é também um processo discrepante em si mesmo!
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