Mais um ano se inicia e por aqui o verão segue quente e úmido.
Notei que nos últimos tempos, e à medida que o processo de envelhecimento vai se consolidando (ante a um exercício árduo e contínuo de aceitação), me percebo com alguns hábitos bastante rotineiros.
É, talvez eu esteja me tornando um pouco mais metódico. Talvez.
O fato é que além de música e da observação de pessoas, as listas vêm ganhando cada vez mais o meu apreço e dedicação.
Irônico, isso. Porque até pouco tempo atrás, eu não mantinha qualquer afinidade com esse tipo de coisa. Inclusive até ridicularizava quem cultivava essa prática. Achava mesmo uma perda de tempo elencar coisas que estavam tão distantes de mim e que certamente não seriam feitas. E se a lista fosse numerada por ordem de prioridade, pior ainda… preferia evitar a frustração. Achava mesmo.
Ao contrário do que se imaginava, também a nossa personalidade muda com o avançar das décadas. Que bom!
Recentemente, até adotei uma caderneta onde as listas se proliferam junto a pensamentos e ideias, a princípio soltas, mas que depois vão ganhando algum contexto e conexão. As ideias viram listas e as listas outras ideias.
Listas de compras, aplicativos, "insights", afazeres domésticos, atividades diárias, listas de filmes, lugares a conhecer, livros a ler, receitas, restaurantes, metas, lista de palavras novas… por falar nisso, acabei de lembrar de uma boa: glazomania!
Glazomania é exatamente isso, a obsessão por fazer… listas.
Mas claro que entre gostar e ser obcecado por algo tem aí uma distância considerável. Inclusive, olhando por esse viés, eu diria que dá para conviver bem com elas (as listas), sem se tornar necessariamente um glazomaníaco.
Da janela de casa, muito embora as luzes natalinas ainda sejam vistas em alguns poucos lugares, o trânsito mais ameno dá sinais de que ainda estamos recomeçando. E como falávamos de lista, não nos deixemos para depois do Carnaval como todo o resto, afinal, ano-novo, lista nova. Então, vamos às famosas metas anuais.
Quanto mais idade ganhamos, menos riscos queremos correr. As listas se tornam cada vez mais necessárias.
Dizem que a culpa é dos babilônios (ou seria dos gregos? Romanos?), não se sabe ao certo a origem, mas a questão é que convencionamos que o início de ano é quando estabelecemos as nossas metas pessoais para os próximos meses.
São desejos de mudanças e conquistas que envolvem desde a perda de peso, a troca de emprego, de carro, de casa, ganhar mais dinheiro, comer mais saudável, se exercitar, mudar de vida… os desejos viram metas; as metas se transformam em listas.
E como praticante amador das listas, descobri que uma boa lista tem de ganhar “vida”, precisa cumprir a sua função, cada item ali descrito precisa ser “tocado”, vivido, questionado, transformado e até abandonado. Cada item elencado carece de revisão, precisa de atenção. A lista precisa se útil, norteadora. E ela vale realmente a pena quando é amassada, rasurada, “ticada”, rasgada, para enfim… ser jogada fora ou guardada com grande satisfação.
Mas, é começo de ano, e os desejos viram metas; as metas se transformam em listas, e essas, por sua vez, vão parar onde?
Geralmente, o destino mais conhecido e certo, é que elas encontram um lugar bem guardado, escuro e pouco visitado e ficam ali esquecidas, ou no fundo de uma gaveta qualquer, ou num bloco de notas do celular, para só no início do ano seguinte serem resgatadas por seus criadores na expectativa de que algo confessado ali tenha se concretizado!
Puro suco do nosso pensamento mágico! Quem nunca?
Mas vamos com calma, e sem culpa. Afinal, onde há lista, há desejo. Portanto, ao menos aqui, vale muito a intenção (na esperança de que o intento se torne ação). Sendo assim, a lista deste ano não precisa ser nova. Pode até ser cópia da do ano passado, porque só o fato de fazer constar em uma lista, já é um grande passo.
Falando nisso, onde será que anda aquela meta de alcançar a longevidade? Será que essa lista vai ficar só para o próximo ano?
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