A isolada Ilha da Trindade, distante 1.160 km do continente e território do Espírito Santo, foi utilizada como presídio político durante o conturbado governo do presidente Artur Bernardes, que administrou o país entre 1922 e 1926.
Rejeitado por setores militares, Bernardes virou alvo preferencial após a vitória nas eleições de 1922, quando movimentos armados eclodiram em vários Estados, com destaque para revoltas tenentistas e à Coluna Prestes, grupo de caráter político-militar que atravessou o Brasil contestando o governo e em busca de transformações sociais. Assim, seu período na presidência, um dos mais turbulentos da Primeira República, ficaria marcado pela decretação de estado de sítio, censura à imprensa e repressão contra opositores.
Os conflitos resultaram na ideia de fazer da Ilha da Trindade, mais de mil quilômetros longe da costa capixaba, um mecanismo de punição direcionado a adversários do presidente, isto é, transformar em presídio o local de difícil acesso e sem nenhuma infraestrutura. Dessa forma, os primeiros presos políticos, civis e militares, chegaram em dezembro de 1924, ao lado de operários e um farmacêutico militar.
Nos dois anos seguintes, a desabitada área continuou recebendo prisioneiros contrários ao governo, entre eles dois jovens inicialmente encarcerados no Rio de Janeiro e que, por terem o plano de fuga descoberto, foram enviados à ilha: o então capitão Juarez Távora e o tenente Eduardo Gomes, militares que nas décadas seguintes atingiram o topo da carreira militar e se tornaram personagens relevantes na história do Brasil, inclusive disputando à Presidência da República.
Outros detidos na ilha com trajetórias significativas posteriormente foram Augusto Maynard Gomes, senador e interventor federal em Sergipe; Roberto Carneiro de Mendonça, Ministro do Trabalho e interventor no Ceará, Pará e Maranhão; Odílio Denys, general e Ministro da Guerra e Aristóteles de Souza Dantas, também general.
Seu uso como prisão perdurou até a conclusão do mandato de Artur Bernardes. Em janeiro de 1927, com o término do estado de sítio e o país já sob a liderança do presidente Washington Luís, todos os detentos remanescentes na inóspita região foram trazidos para o Rio de Janeiro, pondo fim à inusitada e rígida prática.
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Atualmente, a ilha, patrimônio histórico e ambiental do município de Vitória, recebe expedições científicas e, desde 1957, a Marinha do Brasil ocupa o lugar, onde mantém Posto Oceanográfico para realizar atividades técnicas, além de executar ações de vigilância e acompanhamento do tráfego marítimo.
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