O Movimento Outubro Rosa foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure. É uma campanha internacional de conscientização para o controle e prevenção do câncer de mama.
Em 2020, mais de 2,3 milhões de mulheres no mundo descobriram que estavam com câncer de mama. Esse tipo de tumor é o que mais acomete a população feminina brasileira e representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas. Também é o câncer que mais mata. Nas próximas duas décadas, o número de casos deve crescer 47%.
Como diz o conhecido ditado “é melhor prevenir do que remediar”, a Coluna Terra traz essa edição especial sobre o tema, com uma entrevista com o nutricionista Eduardo Corassa, que fala sobre nutrição, saúde e prevenção de câncer.
Corassa é nutricionista clínico, formado pela Universidade Veiga de Almeida, com ênfase em dietas cruas e vegetarianas, no modelo de saúde chamado Higienismo (Natural Hygiene). Idealizador da empresa Saúde Frugal, é autor de sete livros, cursos onlines, Youtuber, culinarista, palestrante internacional e ministrante de retiros de imersão.
Neste mês, acontece a campanha Outubro Rosa, cujo objetivo é promover a conscientização sobre o câncer de mama e sua prevenção. Vejo que a ênfase maior da campanha é voltada para à realização de exames e ao diagnóstico precoce. E as informações sobre a prevenção da doença ficam em segundo plano. Hoje, já existem inúmeras evidências científicas que correlacionam os hábitos alimentares com diferentes tipos de câncer. Recentemente, você publicou um vídeo no seu canal em que apresenta algumas dessas evidências. Você poderia falar sobre a relação entre alimentação e câncer?
Sim, existem amplos dados científicos mostrando que estilo de vida é mais importante que genética, tratamentos e cirurgias, na prevenção e tratamento desta doença. Sabemos que as civilizações mais saudáveis e longevas do mundo, chamadas Zonas Azuis, tem a incidência de doenças crônicas muito menor do que as civilizações ocidentais com o estilo de vida moderno. E uma das principais diferenças no estilo de vida destas civilizações é que elas comem uma dieta primariamente baseada em vegetais, frescos e integrais. As cores dos vegetais, que são fornecidas pelos seus fitonutrientes, assim como as fibras, entre outros fatores nutricionais, têm funções bioativas anticancerígenas. Tomate, linhaça, brócolis, soja, todos são associados em pesquisas com redução da incidência da morbimortalidade desta terrível doença.
Além do consumo de cigarro, já existem evidências de que o consumo de carnes processadas está altamente correlacionado com a ocorrência de câncer. E esse, infelizmente, ainda é um hábito comum na mesa do brasileiro: sanduíches com presunto, salame, blanquet de peru, mortadela e outros embutidos; pizzas com presunto e linguiça; churrasco, a tradicional feijoada. Até mesmo em festas de crianças, é comum servir cachorro-quente. Com tantas evidências que mostram que esses alimentos causam câncer, como é possível que tantas pessoas ainda adotem esses hábitos alimentares?
Está escrito na Constituição Brasileira que não pode ser vendido nada que prejudique a saúde do comprador. A Organização Mundial de Saúde que é uma entidade bastante conservadora já estabeleceu as carnes processadas como cancerígeno 1A (comprovadamente cancerígenas) e as carnes vermelhas, como 2A (possivelmente cancerígena, na mesma categoria que agrotóxicos entre outros). Sabemos que o churrasco, o ato de aquecer a carne na brasa, produz aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos policícilicos aromáticos, duas das substâncias mais cancerígenas ao homem. Mas devido ao lobby da indústria, a falta de informação devida na mídia e ações governamentais para colocar os dados científicos em prática na saúde da população, os hábitos não mudam.
Além de prevenção da doença, é possível tratar e, também, evitar a recidiva da doença, com a adoção desses novos hábitos alimentares?
Sim, temos dados científicos sobre a adoção de uma dieta baseada em vegetais, reduzindo inúmeros dos principais biomarcadores de diversos tipos de cânceres, assim como desligando genes “ruins” de promoção do câncer e ligando genes bons de prevenção do câncer. Mas não podemos esquecer que a saúde humana não depende só de dieta, mas de um bom estilo de vida. Até mesmo a prática de jejum intermitente noturno, pode auxiliar a prevenção da redução da probabilidade da reincidência de câncer de mama em mulheres em até quase 40%.
Existem também pesquisas que mostram que a prática do jejum é benéfica para a saúde como um todo e, especialmente, para a prevenção do câncer. Você poderia explicar um pouco mais sobre como o jejum atua na prevenção do câncer?
O jejum age como um mecanismo de proteção do organismo. Comer, liga mecanismos de mitogênese, geração de novas células e reduzir a ingesta calórica ou jejuar, liga mecanismos de reparo, principalmente a autofagia. Proteína e calorias estimulam mTOR e IGF-1, duas substâncias no organismo que estimulam o crescimento e inibem a “apoptose – morte programada celular”. Ou seja, o organismo ou cresce ou repara, não consegue fazer as duas coisas bem ao mesmo tempo. Então, quanto mais comemos, principalmente proteína animal, mais crescemos células não só musculares, mas células cancerígenas também. O jejum reverte a imunossupressão induzida pelos tratamentos como quimioterapia, tornando o organismo mais resiliente, de acordo com as pesquisas do Valter Longo, famoso cientista do assunto e de muitos outros.
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