Isabela Castello, administradora e designer, apaixonada pelo universo criativo, sua coluna aborda conteúdos sobre arte, design, arquitetura e urbanismo.

A tradição do bordado e da renda do Espírito Santo

Na coluna de hoje, destacamos dois belos trabalhos de resgate de técnicas de bordados e rendas em comunidades capixabas

Publicado em 18/07/2021 às 02h00
Barra de Renda
A renda de bilro já foi a principal fonte de renda das mulheres da Barra do Jucu, em Vila Velha, em meados dos anos 70. Crédito: Divulgação

Quem já viu uma artesã tecendo a renda de bilro conhece a magia presente nessa técnica. Lembro da cena, marcante na minha infância, de ver a dona Zizi, em Guarapari, fazendo seus bordados, com aqueles movimentos rápidos e o som dos bilros ecoando no ambiente. Ficava fascinada com aquela atividade e com a beleza e a delicadeza das rendas que ela tecia.

A renda de bilro já foi a principal fonte de renda das mulheres da Barra do Jucu, em Vila Velha, em meados dos anos 70. Nas últimas décadas, essa tradição, que era passada de mãe para filha, foi perdendo sua força e foi desaparecendo, no Espírito Santo, assim como em outros lugares do Brasil e do mundo, em função da concorrência com os produtos têxteis industriais.

Bordados e rendas em comunidades capixabas
O Grupo Barra de Renda surgiu com o objetivo de resgatar e disseminar a técnica. Crédito: Divulgação

O Grupo Barra de Renda teve início em 2015, por iniciativa da própria comunidade, capitaneada pela arquiteta Regina Ruschi, moradora e amante desta arte. Surgiu com o objetivo de resgatar e disseminar a técnica. As oficinas contam com 20 a 30 mulheres, envolvendo mestras e aprendizes de todas as idades, que se dedicam a compartilhar saberes, vislumbrando a perpetuação desta riqueza cultural.

Em 2019, um projeto da designer Jacqueline Chiabay, com apoio do SEBRAE ES, ofereceu consultoria para transformar o grupo em uma unidade produtiva. Foi desenvolvida uma coleção de produtos com design e gestão da produção, como forma de gerar renda para as participantes.

Bordados e rendas em comunidades capixabas
O Grupo Barra de Renda surgiu com o objetivo de resgatar e disseminar a técnica. Crédito: Divulgação

Foi realizada recentemente a mostra "Tradição e Religiosidade em Rendas de Bilro", na Igreja Nossa Senhora da Glória, para apresentar os trabalhos produzidos pelo grupo. Devido à pandemia, a exposição não foi aberta a visitas, mas seu conteúdo está sendo divulgado nas mídias sociais do projeto.

BORDADEIRAS DE BURARAMA

Memórias e bordados das Bordadeiras de Burarama são eternizados no livro virtual “Bordei”. O trabalho é resultado de um projeto da Associação dos Moradores de Burarama e da Caju Produções e está disponível online gratuitamente em: bit.ly/LivroBORDEI.

Bordados e rendas em comunidades capixabas
Memórias e bordados das Bordadeiras de Burarama são eternizados no livro virtual “Bordei”. Crédito: Divulgação

O livro conta com 142 páginas, com 38 bordados de 34 bordadeiras do grupo. O escritor e fotógrafo André Fachetti foi o responsável por transformar o trabalho das linhas e agulhas em literatura, com crônicas que exploram memórias, histórias e os sentimentos das bordadeiras.

O projeto Bordei, desde abril, leva essa arte de entrelaçar agulhas e linhas ao mundo por meio da 1ª Mostra de Bordados & Memórias de Burarama, realizada no Instagram @bordadeirasdeburarama.

O Bordei recebe apoio da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria da Cultura do Espírito Santo (Secult) e da Secretaria Especial da Cultura via Ministério do Turismo do Governo Federal.

BORDADOS

O entrelaçar silencioso das linhas com a agulha é um verdadeiro retrato da identidade cultural dessas mulheres que, por meio dos tecidos, comunicam, registram e representam suas histórias, memórias, vivências e cenas do cotidiano, tão importantes para a preservação e valorização da cultura local.

Bordados e rendas em comunidades capixabas
Peças do Grupo Barra de Renda. Crédito: Divulgação

O grupo Meninas Bordadeiras de Burarama completa 16 anos em 2021, mas o projeto de ensinar bordados à comunidade já existe desde 1973, uma cultura local que ultrapassa gerações. Hoje, o grupo conta com mulheres de todas as idades.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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