Formada em Desenho Industrial pela FAAP e em Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes, Mila Rodrigues é designer de produtos e consultora de design para empresas do segmento mobiliário. Mora atualmente em São Paulo e, há 30 anos, dedica sua história profissional ao setor.
Atuou junto a grandes marcas do setor e estabeleceu parcerias com nomes importantes para a construção da nossa brasilidade aplicada ao mobiliário, como Sergio Rodrigues e Bernardo Figueiredo. Como consultora de design, ajudou a conquistar importantes premiações para as marcas com as quais trabalha, como IF Design Award, Idea Brasil, Salão Design e Brasil Design Award.
Você poderia falar um pouco da sua infância e do seu contato com as artes, com a estética? Já havia alguma inclinação para a área artística? Havia algum vislumbre de que a carreira artística seria um caminho?
Desde criança eu sabia que seguiria pela área artística. Meu pai pintava e esculpia de forma autodidata. Era encantador saber que aquelas belezas tinham saído de suas mãos e eu me projetava fazendo o mesmo, sonhava. Depois veio a consciência do espaço e eu devorava todas as plantas baixas dos comerciais de imóveis à venda, ficava brincando de mudar a decoração deles. Flertei com a ideia de ser artista plástica, arquiteta, designer de interiores até que o CEO de uma grande empresa, pai de uma amiga de infância, me deu uma aula sobre o que era design. Saí daquela conversa convencida de que era isso o que eu queria fazer para o resto da minha vida. Veja que em comum todas falam da relação do indivíduo com algum elemento que faz diferença prática ou emocional. Essa interação me fascina.
Conte um pouco sobre sua formação e início da carreira.
Na época do curso na FAAP, o primeiro ano integrava as turmas de artes, design e arquitetura. As aulas de pintura à mão livre, esculturas e técnicas de gravuras me deixaram em dúvida se deveria seguir para artes. Mas, por fim, segui design. Em paralelo, fiz um curso profissional de decoração na Escola Panamericana de Artes. A primeira oportunidade profissional foi no escritório de design de interiores, Atelier 3, composto por Jóia Bergamo, Flávia Aguiar Campana e Ruth Mendonça de Barros, pessoas que eu admirava muito. Abri meu escritório de design de interiores e fiz vários trabalhos, muitos deles publicados. Com o nascimento dos meus filhos, acabei parando por um momento, pois eles nasceram em intervalos curtos de tempo. Depois retomei minhas atividades mais interessada nos bastidores do mercado de decoração, para quem produz o que compramos para nossos clientes. Meus olhos se voltaram para minha formação de designer e comecei a construir o formato que trabalho hoje. Trabalhei com grandes lojas do setor como Dpot, Brentwood, Quartos & etc e Arredamento, entre outros. Através delas entendi como compor linha de produtos visando a identidade da marca e como atender a diversidade necessária para o comercial. Isso é o que mais amo fazer.
Qual o artista ou designer que mais admira e que tenha sido uma influência na sua carreira ou na escolha por essa carreira?
A escolha da carreira está muito mais ligada ao fato de você fazer alguma diferença na vida de alguém, ao planejar algo que contribuirá com o seu cotidiano. Agora, admirar a lista é enorme, desde Lino Bo Bardi à Marcel Wanders. São muitos perfis de trabalho que me interessam, pois é observando as diferentes linguagens e estratégias usadas que me inspiro a pensar como direcionar cada projeto meu.
Você poderia citar um momento ou trabalho marcante da sua trajetória. Algo de que você tem boas memórias ou de que mais se orgulha de ter feito.
Tenho bastante orgulho dos meus trabalhos. Se tenho que eleger, peço espaço para falar de três deles. A última coleção de produtos lançada no mercado pela Donaflor Mobília foi incrível. O grupo de designers que integra a equipe conseguiu traduzir o slogan da empresa, que é A Vida é Lá Fora. A outra que lembro com carinho foi em 2009, com a Schuster Móveis. Convidamos Sergio Rodrigues para desenvolver conosco o que seria a OCA, se ela fosse aberta naquele momento. O resultado foi uma coleção autoral inusitada e cheia de personalidade, conduzida com maestria por ele. Sou eternamente grata. Outro momento especial foi ter recebido um prêmio das mãos da Maria Helena Estrada, em 2011, pois a admirava imensamente.
Fale um pouco sobre seu processo criativo.
Primeiro preciso entender as bases, as necessidades, características que trazem a solicitação. Depois busco esquecer os parâmetros e buscar fontes diversas de inspiração. Sair do campo do conforto e perceber por outro olhar o que está no cotidiano e nem reparamos. Ao encontrar o fator inspirador que faça sentido e gere força para a nova ideia, começo a trabalhar a forma e aplicação. Daí para a frente, é lapidar.
Qual é seu trabalho atual ou mais recente?
Hoje sou curadora de produtos da Donaflor Mobília e da Schuster Móveis. Ambas de altíssima qualidade. Como designer, a peça mais marcante dos últimos trabalhos é chaise Lazy Day, desenhada para a Donaflor. Uma peça abusada em dimensões, para se jogar e curtir boas companhias. Integra trama e forma orgânica, com ângulos bem definidos que dão uma personalidade marcante ao produto.
Mila Rodrigues
Cargo do Autor
"Arte é toda forma livre de se expressar. Exteriorizar sentimentos, pensamentos. Pode ser em forma de dança, música, pintura, escultura, criando um produto livre de arestas que podam sua expressão"
Além do seu trabalho, como é seu contato com a arte atualmente e durante a sua vida, nas mais diferentes vertentes?
Amo dança e acompanho várias companhias brasileiras. Visito regularmente museus, às vezes nem olho a programação. É um prazer entrar e ser surpreendido com o que está em exposição. Gosto muito de andar pelas ruas e olhar como as pessoas arrumam soluções, na forma de se vestir, numa escolha de pintura da casa, tudo que pareça uma intervenção de alguém me atrai o olhar. O universo digital é incrível para pesquisar expressões de arte, nos coloca em contato com fotógrafos e artistas diversos produzindo tantas coisas, muitas vezes de forma muito simples.
Qual é o papel e a relevância da arte para a sociedade?
Fundamental. A arte instiga. Te faz sentir algo, mesmo que seja não gostar. Te chama a pensar sobre o porquê gosta ou não gosta. Te faz criar parâmetros pessoais e respeitar o parâmetro do outro.
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