Hoje, inicio um novo conteúdo da Vão Livre. Estamos abrindo as portas para entrar no universo particular de artistas, designers e criativos das mais diferentes áreas e conhecer seu mundo, seu universo particular, seu processo criativo.
Tenho a honra de inaugurar esse espaço e apresentar um pouco do universo inspirado e inspirador do designer e artista Ronaldo Barbosa.
Sobre o artista
Formado na primeira escola de Designer da América Latina, a ESDI - escola superior de desenho industrial (RJ), que formou os primeiros designers brasileiros.
Em 2017, completou 40 anos de carreira, com a exposição RB40 - Ronaldo Barbosa / 40 ANOS DE ARTE E DESIGN, no Palácio Anchieta, e o lançamento de uma caprichosa publicação sobre a sua trajetória.
Vive entre sua residência, na Praia da Costa, e o seu ateliê, no distrito de Aracê, em Domingos Martins, com uma linda vista para Pedra Azul. Lá, ele tem casas pomeranas e italianas, com mais de 100 anos, de diversos lugares do estado, que desmontou, transportou e reconstruiu, com um toque de arquitetura contemporânea. Seu estúdio/ateliê fica em uma dessas casas.
Você poderia falar um pouco da sua infância e do seu contato com as artes, com a estética? Já havia alguma inclinação para a área artística? Havia algum vislumbre de que a carreira artística seria um caminho?
Não me lembro de quando comecei a desenhar. Acho que nasci com um lápis na mão. Quando não era lápis, era um graveto de alguma castanheira da Praia da Costa, tendo a areia dura e molhada como suporte ou mesmo um prego rabiscando na calçada de terra batida de uns vizinhos imigrantes italianos. Foi assim que comecei. Em casa, na escola ou ao ar livre, eu desenhava. Meu pai me deu, de presente de aniversário de 13 anos, um ateliê montado, atrás da casa onde morávamos. Aos 14 anos comecei a frequentar o ateliê do paulista, radicado artista capixaba Raphael Sam. Com ele aprendi tudo. Ele foi meu grande mestre. Aos 16 anos, ele me levou para o II Festival de Arte de Ouro Preto, MG. No mesmo ano, com o incentivo dele, fiz a minha primeira exposição individual, na antiga Aliança Francesa, no centro de Vitória. Com 18 anos, fui para o Rio de Janeiro estudar na primeira escola de Design da América Latina, ESDI - Escola Superior de Desenho Industrial.
Conte um pouco sobre sua formação e início da carreira.
A ESDI, nasceu de um desejo do Governo Federal (Juscelino Kubitschek - 1966) e do governo estadual do RJ, de fazer uma faculdade, para que o Brasil tivesse uma identidade brasileira nos seus produtos. Era o momento da industrialização no Brasil. Descobri a faculdade numa revista alemã. Prestei vestibular, em 1969, e entrei. O mundo mudou a partir daí. Entrei para um novo mundo. A ESDI reunia um time de professores alemães e brasileiros recém-formados na escola de ULM (Alemanha), criada a partir da Bauhaus (fechada pelos nazistas), além de importantes nomes da cultura nacional, como o jornalista Zuenir Ventura, o designer Aluísio Magalhães, escritor Décio Pinhatari, crítico de arte Frederico de Morais, designer Alexandre Wolner, entre outros. Logo de início, comecei a trabalhar com design de estampas de tecidos para empresas brasileiras e famosos designers. Ainda na faculdade, fui convidado para implantar a identidade visual da Estacas Franki LTDA, uma empresa belga de fundações e infraestruturas, projeto do escritório PVDI do ALUISIO Magalhães.
Qual o artista ou designer que mais admira e que tenha sido uma influência na sua carreira?
Artistas e designers que admiro são muitos. Da época da faculdade, o Aluísio Magalhães, no Brasil, e o Milton Glaser, do famoso cartaz de Boby Dylan e da marca I love (coração) NY. Artistas, são muitos: os expressionistas italianos dos anos 80, como Francesco Clemente e a arte alemã, como Joseph Beuys, que amo de paixão, e Anselm Keifer, com uma exposição atual chamada “Field of the Cloud of Gold” na galeria GAGOSIAN - Le Bouget/ França.
Você poderia citar um momento ou trabalho marcante da sua trajetória. Algo de que você tem boas memórias ou de que mais se orgulha de ter feito.
O projeto do qual fui diretor de arte e design, Espaço Brasil no Carreau Du Temple, no Murrais em Paris, por ocasião do Ano do Brasil na França (2005).
Fale um pouco sobre seu processo criativo.
Meu processo criativo sempre foi de muita intuição. Prefiro deixar, primeiramente, o que vem ao coração falar. Mas não é só isso, trabalho muito com equipes, normalmente equipes multidisciplinares que me mostram caminhos e limites, além de extensa pesquisa teórica para que eu possa materializar as ideias que me trazem. Mas sempre quem ganha este jogo é a intuição. Hoje todo o trabalho criativo é produzido no ateliê da montanha. É lá que tenho a paz necessária para responder, com muita humildade e tentativa de dar o melhor, às demandas da sociedade a mim solicitadas.
Qual é seu trabalho atual ou mais recente?
Atualmente, estou fazendo a museografia e comunicação visual do Centro de interpretação Santo José de Anchieta, um projeto em São Luís do Maranhão, sobre o qual ainda não posso falar, além de tudo o que envolve o Museu Vale (extensa programação virtual) e grandes surpresas para este ano.
O que é arte para você?
A arte para mim, no início de tudo, foi uma salvação. Sem ela, eu não chegaria a lugar algum. Foi também uma estratégia de sobrevivência. Hoje, vejo como uma necessidade vital para a civilização, para que tenhamos compreensão, saúde, paz e energia para seguir. Um povo sem arte é um povo sem coração.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.