Os consumidores estão exigindo das empresas compromisso com os princípios da sustentabilidade. Esta passou a ser uma exigência para as marcas que desejam se manter competitivas.
Andrea Bisker, cientista de consumo, entrevistada pela Coluna Terra, menciona pesquisas que mostram ser essa uma tendência e afirma que as marcas que não se adaptarem correm grande risco de perder mercado.
Investir em responsabilidade ambiental e social virou um imperativo para as marcas que querem crescer. Não bastam discursos e narrativas, os consumidores também querem ações e resultados.
Por isso, metodologias de gestão, como a ESG – Environmental, Social and Corporate Governance (Governança ambiental, social e empresarial), estão sendo adotadas por muitas empresas.
Convidamos Caleb Salomão, advogado, professor universitário e consultor, para nos ajudar a compreender esse modelo de gestão que vem ganhando mais espaço no mundo empresarial.
O que significa ESG?
ESG é Direitos Humanos na linguagem e dimensão que o mundo empresarial entende.
A ideia fortalece o conceito de desenvolvimento sustentável proposto no Relatório Brundtland (ONU), de1987: sustentável é o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades.
Surgiu em 2004, na interlocução entre representantes da ONU e da indústria financeira, num relatório intitulado Who cares wins (quem se importa, ganha): a responsabilidade empresarial para além do lucro pode ser um ativo intangível de grande relevância.
O advento da cultura ESG fez evoluir o tripé da sustentabilidade (People, Planet, Profit*, de J. Elkington) e estimulou o surgimento dos 5 Ps: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias, que estruturam os 17 ODSs – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Na base da cultura ESG e ODSs estão os Direitos Humanos.
Seu objetivo é disseminar, nas esferas privada e pública, a governança responsável, orientada para a proteção e o cuidado com negócio, com o homem e com o meio ambiente.
Por que a cultura ESG é importante para as empresas?
Depois do apelo Who cares wins, a cultura da sustentabilidade se expandiu, fortalecendo o capitalismo de stakeholders, o qual reposicionou o legítimo objetivo de lucro e valorizou a ampliação do grupo de interessados em como as empresas desenvolvem suas atividades: trabalhadores, consumidores, investidores, fornecedores, parceiros comerciais e comunidades envolvidas.
As empresas de pesquisa das tendências de consumo identificaram real preferência por empresas administradas com responsabilidade: aquelas que perseguem o lucro estruturando uma governança empresarial capaz de respeitar investidores e a comunidade em geral, além de instituir práticas ambientalmente amigáveis.
Além disso, pesquisas de clima organizacional apontam para sensível melhora no ambiente de trabalho em que a cultura ESG está presente.
Aquele grupo de interessados demonstra orgulho de empresas que valorizam e implementam diversidade étnica e de gênero, paridade na remuneração independentemente do gênero, tecnologias limpas, energia renovável, reciclagem de embalagens, combate ao assédio e à violência de gênero e outras práticas ESG/ODSs.
Ou seja: ganha mais a empresa que se preocupa com o impacto de suas atividades para além do seu balanço.
Os fundos de investimento já estão direcionando seus recursos para empresas que investem em sustentabilidade. Poderia falar um pouco mais sobre esse tema?
Who cares wins e Follow the Money** parecem ser as duas forças que fomentam a cultura ESG.
Os mais expressivos fundos de investimento, nacionais e internacionais, estão alocando recursos preferencialmente em empresas comprometidas com essa cultura. O mesmo ocorre com instituições financeiras tradicionais, como os bancos, que já começaram a favorecer, com taxas menores, empresas tomadoras que se guiam pelos critérios ESG.
O mercado sinaliza com maiores dificuldades para empresas que não aderirem à cultura ESG/ODSs. Por outro lado, empresas que recorrem a empréstimos bancários, que se financiam na bolsa de valores ou mesmo aquelas que pretendem atrair investidores aumentarão suas chances se forem geridas a partir dessa cultura. A responsabilidade empresarial está sendo premiada.
Os consumidores estão fazendo escolhas mais sustentáveis e dando preferência às empresas que investem em sustentabilidade. As marcas que não adotarem essas práticas perderão mercado?
Além de gestores mais jovens, já educados numa cultura de sustentabilidade, há a crescente força do consumidor consciente, também ele formado num contexto em que a ética do cuidado, com o ser humano e com a Terra, ganha nova dimensão.
Há pesquisas confirmando que o consumidor mais jovem se dispõe a pagar um percentual acima do preço de mercado em produtos de empresas que comprovadamente operem segundo esses critérios.
Então, é correto pensar que as marcas que não forem associadas à cultura ESG e ODSs, com práticas efetivas e auditáveis, tenderão a perder relevância no imaginário e na preferência do consumidor.
Como esse processo de conscientização pode ser acelerado, de modo a se universalizar essas boas práticas de governança?
Eu considero que o caminho é a Educação em Direitos Humanos, com ênfase na cultura ESG/ODSs.
Sei que é um truísmo, mas é necessário reconhecer que esses consumidores que estão exigindo novas formas de produção dos bens que consomem foram educados com valores diferentes.
Nossos filhos nos obrigam a fechar a torneira na hora de escovar dentes, reduzir o tempo de banho, separar o lixo orgânico do reciclável e evitar comprar marcas denunciadas por trabalho degradante e uso de matéria-prima de origem ambientalmente duvidosa. Eles aprenderam essas práticas na escola.
Outro campo é o da educação nas empresas: empresas são centros difusores de cultura e devem ser usadas para disseminar a cultura da sustentabilidade, do cuidado com o ser humano e com a Terra.
A universalização da cultura ESG/ODSs depende fundamentalmente de práticas educacionais promotoras desse conteúdo.
*Pessoas, Planeta, Lucro
** “Quem se importa, ganha” e “Siga o dinheiro”
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