Pedro Ariel Santana é formado em arquitetura e jornalismo, além de curador das mostras CasaCor São Paulo e CasaCor Paraná.
Autor do livro "A Grande Beleza", Pedro também é pesquisador de tendências e palestrante sobre o tema e curador de inúmeras exposições de design e arte. E para a coluna especial desta semana, dentro do Meu Universo Particular, fiz uma entrevista com o profissional. Confira:
Fale um pouco sobre o processo criativo, que foi tem da sua palestra durante a CasaCor ES.
Eu acho que processo criativo é o seguinte: a gente faz isso automaticamente, conscientemente ou não. É você armazenar uma série de referências. É ir acumulando essas referências. Obviamente, quanto mais tempo de estrada, mais referências você tem. E, se possível, tentar organizar essas referências. Você pode ir selecionando por pastas, tem aplicativos que ajudam a fazer isso. Meu acúmulo de referências está em revistas, livros de arquitetos que me interessam. A gente vai acumulando e organizando essas referências. Então, sempre que eu preciso começar um trabalho, que é quando você precisa acionar o seu processo criativo - diante de uma folha em branco, diante de uma tela de computador em branco - eu busco essas referências. Eu gosto de passar um tempo sentado, às vezes no chão, no tapete da sala, folheando livros. A minha biblioteca é uma loucura de tanto livro! E livros de Arquitetura em geral são grossos, grandes, pesados, lindos, com fotos. Então, a depender do briefing, do que eu vou fazer, eu gosto de folhear livros. Eu me dedico pelo menos umas duas horas, antes de dar o primeiro traço.
Poderia falar um pouco da sua infância, do seu contato com as artes, com a estética? Já havia alguma inclinação para a área artística, de arquitetura ou de design? Havia algum vislumbre de que a carreira artística de design seria um caminho?
Sim. Desde sempre. Desde muito cedo, eu gostava de desenhar. Eu era uma criança meio introspectiva. Não era do tipo que ia brincar na rua. Eu ficava muito tempo sozinho, desenhando e desenhava muito bem. Eu ficava muito tempo sozinho, desenhando. Desenhava muito bem. Eu tinha um primo mais velho. Sabe aqueles primos que você mira e admira? Ele era um grande artista. Depois ele estudou belas artes. Ele desenhava muito bem e eu fazia cópias dos desenhos dele. Enfim, eu desenhava em cadernetas, em cadernos, em tudo quanto era lugar. Desde pequeno, essa inclinação é muito forte.
Conte um pouco sobre sua formação e início da carreira.
Eu estudei Arquitetura, em função dessa inclinação artística. Iniciei o curso muito cedo. Com 16 anos eu estava na Universidade Federal da Bahia, me formei aos 22 e estagiei em alguns escritórios. Fui para São Paulo, onde fiz dois anos de mestrado na USP como aluno ouvinte. Quando cheguei em São Paulo, eu já entrei no escritório do Léo Shehtman. Esse foi meu primeiro trabalho. Depois, eu passei por mais dois escritórios bacanas, todos muito bons. Trabalhei com José Duarte Aguiar, um decorador importantíssimo nos anos 80 e 90. Foi uma grande escola. E depois, trabalhei com Artur Casas.
E como você foi parar na CasaCor?
Como eu não conseguia mais conciliar as aulas do curso de mestrado com o trabalho, resolvi fazer Jornalismo à noite, na Cásper Líbero. No último ano de faculdade de Jornalismo, eu fui atrás de um profissional que eu admirava muito, para ser meu orientador. Ele era da Editora Abril, Eugênio Bucci. Eu achava o Eugênio um gênio. Quando terminei a orientação, ele me indicou para trabalhar lá e é onde estou até hoje. Porque eu ainda trabalho na Abril, não mais na editora, mas na empresa Abril. E já são 28 anos. Comecei a trabalhar na revista Arquitetura e Construção, na Casa Claudia. Quando as revistas começaram o seu declínio, eu migrei para a CasaCor. E a CasaCor é esse grande evento de decoração, de design de interiores A Lívia Pedreira, que era minha chefe nas revistas e passou a ser a diretora geral da CasaCor, me deu duas missões: ser responsável pela renovação da mostra, ou seja, trazer arquitetos, jovens, bacanas, novos. E fazer essa ponte, esse contato com as franquias, que são 18 pelo Brasil. Desde então, são 10 anos em que estou nessa missão.
Você terminou recentemente um curso de curadoria de arte. O que que é a arte para você? Qual o papel e a relevância da arte para a sociedade?
Nossa! Isso é uma tese de mestrado Vou começar lá atrás. Eu falei que comecei desenhando muito. Desenhava corpos humanos, rostos de mulheres. Gostava muito dessa representação. Então, se não fosse a sociedade, se não tivesse nascido no interior da Bahia, acredito que eu teria feito Artes. Porque era a minha primeira vocação. Arquitetura é aquela carreira, digamos, mais assimilada pelos pais. A sensação que eu tenho é que essa resposta nunca vai ser precisa. Ela nunca vai ser exata. Mas, por outro lado, é impossível viver sem arte. Para mim, a arte tem um papel de transformação da sociedade. Que é maior do que o papel da política. A política vem depois. Olha o que está acontecendo com o mundo hoje. Olha o que está acontecendo com o mundo hoje. Além das questões climáticas, uma questão relevante é a transformação da sociedade enquanto diversidade. Hoje esse debate está disseminado pela sociedade, mas a arte vem fazendo isso há alguns anos e com muita força. Quem visita, por exemplo, a Bienal de Arte de São Paulo, é só isto: a cosmovisão indígena na arte, a arte dos povos originários. O MASP elegeu como tema para este ano de 2023 que todas as exposições teriam que falar sobre a arte de povos originários. Os povos originários gritam por relevância, por serem ouvidos. Para dizer “nós existimos”. Eles são a sociedade, eles têm muito a falar. Essa conotação política das artes, eu só descobri recentemente. A arte não é só individual. A arte é coletiva. A arte fala de um povo, de uma sociedade, de uma época, com muito mais antecedência que qualquer outra área do conhecimento humano.
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