Hoje, o mundo cristão comemora o Natal, dia do nascimento de Jesus Cristo. É importante registrar que essa é uma data que tem valor e é comemorada apenas por aqueles que seguem a fé cristã. Ou seja, não é uma data comemorada em todo o mundo.
Na véspera e no dia de Natal, as famílias - que tem condições financeiras para tal - se reúnem para comemorar o nascimento de Jesus. Nesses eventos, normalmente estão presentes mesa farta, muitos enfeites natalinos, trocas de presentes e fartura de comida.
O Natal acabou virando um período de consumo exagerado, de compras, trocas de presentes, arranjos de Natal e muita comida, para uma pequena parcela de pessoas economicamente favorecidas. Por isso, a Coluna Terra de hoje traz essa reflexão.
PRESÉPIO E MINIMALISMO
Sempre gostei muito mais do simbolismo do presépio do que dos arranjos e das árvores de Natal. Acho que os presépios são as representações que traduzem o verdadeiro espírito do Natal e dos valores cristãos, que Jesus Cristo espalhou e semeou ao longo da sua breve vida.
Jesus nasceu em uma manjedoura e comemoramos seu nascimento em um ambiente de extremo consumismo e fartura. Percebo uma grande incoerência entre essa ênfase e estímulo ao consumismo e os verdadeiros valores de Cristo.
A imagem do presépio nos remete ao conceito do minimalismo, que é essencialmente o oposto do consumismo exacerbado presente nesse período do ano. O minimalismo propõe uma busca por uma vida simples, sem excessos, com baixo consumo e atenção ao essencial.
PAPA FRANCISCO E A SIMPLICIDADE
O Papa Francisco, principal líder religioso da Igreja católica, adota e prega uma vida simples. Na noite em que foi anunciado Papa, houve sinais de que Francisco seria diferente de seus antecessores. Surgiu com roupas mais simples. Optou por um anel de prata, no lugar do ouro. Manteve a cruz e os sapatos modestos que sempre usou e dispensou os acessórios papais pomposos.
Desde então, tem se confirmado como o papa da simplicidade e da austeridade. Um papa humilde que se preocupa com os humildes. Sua conduta sinaliza desapego material e simplicidade, valores próximos aos ensinamentos de Jesus Cristo.
SOCIEADE DE CONSUMO x MINIMALISMO
Na sociedade contemporânea – também denominada como sociedade de consumo - este é incentivado o tempo todo pela publicidade, em conversas com amigos, nos filmes, nas séries e nos programas de televisão. A ideia é que felicidade é alcançada por meio do consumo de produtos e serviços: roupas, carros, celulares, viagens, comida, festas, joias.
O sociólogo Zygmunt Bauman foi um grande crítico dessa sociedade. Para ele, a sociedade de consumidores representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumistas. Na sociedade contemporânea, seus membros são avaliados por sua capacidade de consumir, sendo esse o termômetro que irá reconhecer - ou não - o seu valor no interior desta escala social.
Em oposição a esse estilo de vida, o conceito de minimalismo traz a ideia de reduzir ao mínimo o uso de qualquer recurso. A ideia não é deixar de comprar, mas sim cortar o consumo excessivo e passar a utilizar as mercadorias de forma mais consciente.
Recentemente, o assunto foi tema de uma produção audiovisual exibida na Netflix intitulada "Minimalism: a documentary about the important things" (em tradução livre, Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes). Esse estilo de vida prega que a felicidade não vem dos bens materiais e busca colocar em prática a ideia do “menos é mais”.
SOBRECARGA DE CONSUMO
O planeta Terra vem dando evidências de que não suporta mais esse consumo exagerado. A humanidade vem consumindo mais do que a capacidade de regeneração do nosso planeta.
Em 2019, era necessário 1,75 planeta para sustentar nosso padrão de consumo. Em 2020, com a pandemia, esse número caiu para 1,6, de acordo com a GFN (Global Footprint Network), organização internacional responsável pelo cálculo. Agora o número voltou a subir: precisamos de 1,7 planeta, ou seja, 75% mais recursos naturais do que o Planeta dispõe.
A DESIGUALDADE ECONÔMICA
E ainda vivemos uma extrema desigualdade, em que países e pessoas tem um nível de consumo muito elevado, enquanto a grande maioria da população brasileira e mundial passa fome.
Dados atuais apontam que aproximadamente 19 milhões de pessoas passam fome atualmente no país. E relatório, divulgado pela ONU em 2021, estima que 811 milhões de pessoas passam fome no mundo.
O QUE PODEMOS FAZER:
- Repensar cotidianamente nossos padrões de consumo
- Perceber que esse consumo exagerado está destruindo o planeta Terra e sua capacidade de regeneração dos recursos consumidos pela humanidade
- Repensar nossa relação com os bens materiais e com o conceito de felicidade
- Buscar um estilo de vida minimalista
- Contribuir para a redução da desigualdade econômica e social no Brasil e no mundo
A Coluna Terra deseja a todos um Natal de reflexão, em que predomine os verdadeiros valores cristãos: simplicidade, compaixão, empatia, tolerância e amor ao próximo.
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