Quando o Super-Homem caiu de paraquedas (foi num foguete, tô sabendo) em Smalville, não poderia imaginar que seu uniforme de fortão, malha azul e sunga vermelha, serviria a tantos heróis inventados da vida real. O super-herói - Clark Kent na encolha - viraria uma espécie rara de gente que, supostamente ao pegar o touro a unha no dia a dia, ganha, com louros da tietagem, status do super-homem de poderes ilimitados e a vaidade brilhando feito diamante nos olhos.
Em crônica sobre buracos negros, falei aqui da necessidade humana de se preencher buracos e vazios da vida mesmo quando não há espaço a se ocupar, porque o vazio nos constitui e, embora finjamos cegueira, ele também ocupa os seus espaços. O vazio é imensidão que não aceitamos. Resta entulhá-lo com nossa necessidade eterna do outro, que pode ser o Pai Herói, a Mãe Coragem, o Mito, o Super-Homem.
Na esfera pública, prevalece o desejo do Messias e isso não é só metáfora pro presidente de mesmo nome, porque tantos outros salvadores da pátria vieram antes com a promessa do Paraíso na terra e o inferno continua dando as ordens por aqui. Heroificar novos comandantes pra manada reflete o quanto somos precários e precisamos do Grande Irmão, o Big Brother a pousar os olhos sobre nossas carências.
Nada se resolve sozinho, é fato. Precisamos dos poderes - podres poderes muitas vezes - pra dar cobertura aos nossos direitos de cidadãos. Acontece que a cobertura quase nunca tem telhas o suficiente pra suprir os andares de baixo. Se não anda favorável dar conta do todo, imagine curar as chagas do vazio e da carência individual.
Pra quem ainda dorme o sono de Pollyanna moça, atenção para o refrão: heróis estão enfurnados e indestrutíveis nas histórias em quadrinhos e nas telas de cinema. Na vida real, ídolos têm pés de barro e quando veem uma criptonita pela frente batem em retirada pela porta dos fundos.
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Não precisamos de heróis, precisamos de homens que restituam a glória com sua porção de humanidade, essa palavra tão fora de moda.
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