É jornalista. Atualidades de economia e política, bem como pautas comportamentais e sociais, ganham análises neste espaço. Escreve às sextas

Brasil está pegando fogo: a catástrofe iminente das mudanças climáticas

O ES também sofre com os efeitos das mudanças climáticas. Turbinadas pela maior estiagem dos últimos 60 anos, com temperaturas 3° acima do habitual para essa época, as queimadas neste ano foram 73% mais numerosas que as do ano passado

Publicado em 30/08/2024 às 02h15

Entre abril e maio, o Rio Grande do Sul foi dizimado pelas enchentes causadas pelas chuvas intensas. Relatório da ONU alerta sobre a subida acelerada do nível dos mares, “uma catástrofe em escala mundial que está colocando em perigo” as regiões costeiras. No Brasil, a previsão é a de que em duas regiões, a do Rio de Janeiro e a de Atafona, em São João da Barra, o mar subirá 21 cm até 2050.

O Espírito Santo também sofre com os efeitos das mudanças climáticas. Turbinadas pela maior estiagem dos últimos 60 anos, com temperaturas 3º acima do habitual para essa época, as queimadas neste ano foram 73% mais numerosas que as do ano passado. Foram registrados 310 focos de incêndio (em 2023 a quantidade de focos foi de 179).

Importantes áreas de preservação florestal foram atingidas, dizimando boa parte da fauna e a flora, como os parques de Itaúnas, Paulo Cesar Vinha, Pedra Azul, Serra das Torres e Mata das Flores. Os municípios do norte do Estado são os mais atingidos.

O jornalista Vinicius Lodi assim descreveu o incêndio que destruiu 90 hectares às margens da rodovia ES 080, no município de Colatina: “O fogo transformou a paisagem em um cenário de filme de fim de mundo”. Vídeos compartilhados por motoristas nas redes sociais confirmam a narrativa do repórter que testemunhou o rastro de destruição deixado pelo fogo.

As catástrofes que se sucedem provocadas pelas mudanças climáticas confirmam, dia após dia, que a humanidade está perdendo a luta pela preservação da natureza. E que não se pode perder mais tempo para serem adotadas medidas que mudem o rumo atual que nos leva, inexoravelmente, a uma catástrofe de proporções gigantescas.

O Brasil, infelizmente, não tem feito o que dele se espera com relação à preservação do meio ambiente. Só um deputado federal – entre os 513 existentes no Congresso Nacional – destinou recursos de emenda parlamentar para o PrevFogo, programa de combate a incêndios do Ibama.

O orçamento do ministério conduzido por Marina Silva é, em 2024, de R$ 3,6 bilhões, 16% menor que o de 2023 e 72% inferior ao orçamento de anos atrás (2014). Esse número mantém uma trajetória de quase uma década de cortes orçamentários sucessivos que sucatearam a política ambiental brasileira.

Incêndio na área do Contorno do Mestre Álvaro
Incêndio na área do Contorno do Mestre Álvaro nesta quinta-feira (29). Crédito: Montagem | Leitor A Gazeta

Diante da multiplicação dos focos de incêndio, a única providência até agora tomada pelo governo federal foi o pedido feito aos governos estaduais para proibir o uso de fogo durante os períodos de seca. Além disso, só houve o anúncio de um decreto, ainda a ser editado, que regulamentará a lei que institui um novo modelo de técnicas de manejo preventivo, métodos de alarme e sistema de acompanhamento e manejo integrado de combate aos incêndios. Ainda há uma proposta de criação de um conselho nacional (mais um; será que esse vai funcionar?) para acompanhar a situação climática do país.

Especialistas consideram que o Brasil é um dos últimos países com ambientes que queimam naturalmente, como o Cerrado, a instituir uma política eficaz de manejo do fogo. Por isso consideram que o governo federal deveria buscar aprender com a experiência de outros países que enfrentaram problemas semelhantes como os Estados Unidos, Canadá, Portugal, Chile e África do Sul. Entre essas experiências está a de “ter uma legislação ambiental que realmente seja cumprida e que pese no bolso”.

Fica, assim, a percepção de que se a humanidade não tomar a firme decisão e implementar medidas que levem à redução drástica das emissões globais, à uma transição rápida que chegue ao fim do uso dos combustíveis fósseis e ao aumento substancial dos investimentos em adaptação climática, como propõe a ONU, estaremos todos condenados a enfrentar uma catástrofe – provocada por nós mesmos – em um futuro não muito distante.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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