É jornalista. Atualidades de economia e política, bem como pautas comportamentais e sociais, ganham análises neste espaço. Escreve às sextas

Maria Alice Lindenberg: lembranças boas de guardar no fundo do coração

Maria Alice era atuante, participativa, guerreira, companheira, sempre acessível a quem dela dependia. Era dela a palavra mais amiga e solidária dos nossos momentos difíceis

Publicado em 15/08/2024 às 07h46
Maria Alice Lindenberg
Maria Alice Lindenberg, em 7 de maio de 1987- . Crédito: Jose Magno

Convivi mais de perto com Maria Alice ao retornar à Rede Gazeta em 1985, a convite de Cariê, para ocupar a Diretoria Industrial e de Projetos Especiais. O nome “Projetos Especiais” se devia a projetos idealizados por Cariê, a serem realizados pela Rede Gazeta, para ampliar a participação da empresa na comunidade. Como disse Café Lindenberg, filho de Cariê, no encerramento de um desses projetos, “ser protagonista do desenvolvimento do Espírito Santo está no DNA da Rede Gazeta”.

Nessa época já havia sido lançado pela empresa, em parceria com a OAB-ES e UFES, o “ES na Constituinte”, projeto destinado a “mobilizar a comunidade capixaba para o processo constituinte” com o propósito de debater com os parlamentares capixabas propostas para a Constituição de 1988. Por essa razão, meu primeiro local de trabalho nesse retorno à Rede Gazeta foi a sala onde ficavam Maria Alice e o secretário executivo do projeto Odilon Borges.

Coube, então, a Maria Alice me acolher nesse meu retorno à empresa depois de 13 anos de ausência, pois já havia trabalhado na Rede Gazeta como jornalista entre 1968 e 1972. E esse acolhimento não poderia ser melhor em um ambiente de trabalho intenso já que o “ES na Constituinte” se preparava para receber personalidades importantes do meio jurídico e político do país como Paulo Brossard, Raymundo Faoro, Bolivar Lamonier, Marco Maciel, José Serra, Lula, Ulysses Guimarães, Eros Grau e Paulo Bonavides, entre tantos outros. Cabiam a Maria Alice e Odilon a logística de recepção a esses convidados e a organização e realização dos debates – que ocorreram no auditório da Rede – e a mim a parte de comunicação que incluía a publicação do conteúdo dos eventos em cadernos especiais.

Foi assim que pude testemunhar de perto a competência e a serenidade de Maria Alice que não só deu conta de todos os encargos do “ES na Constituinte” como também de outro projeto que realizamos quase simultaneamente denominado “ES Século 21 – geração do futuro capixaba”. O “ES Século 21”, ao longo de três anos, elaborou propostas ao Estado para a construção de um futuro melhor, tendo como motivação a proximidade de um novo século. Ambos os projetos, diga-se de passagem, foram realizados com o mais absoluto êxito.

Maria Alice, ao meio de tantas responsabilidades, ainda encontrava tempo parta ser leve e divertida, como quando contava rindo que os jornalistas da redação manifestavam dificuldades em entender o propósito – considerado pretensioso demais – do “ES Século 21”, tanto que ironicamente o chamavam de “guerra nas estrelas”. Dizia ela que entregou o projeto a um dos jornalistas que haviam sido escolhidos para participar da divulgação e ele devolveu o documento pedindo maiores esclarecimentos porque tinha faltado a ele “lucidez” para compreender um conteúdo tão complexo.

Cabia também a Maria Alice, como responsável pelas relações institucionais, receber as autoridades que visitavam a empresa e, quando da eventual ausência de Cariê, convidava um outro diretor para substitui-lo. Em uma dessas ocasiões ela me convidou a acompanhar a visita à empresa de Dom Luiz, Príncipe de Orleans e Bragança, herdeiro da família imperial, que estava em Vitória participando da campanha pró-monarquia que antecedeu ao plebiscito de 1993 que escolheu a forma de governo do país, se monarquia ou república. Ao final da visita, o Príncipe, tendo observado a gentileza com que ela se dirigia aos colaboradores da empresa sempre pedindo “por favor” e agradecendo ao final com um “obrigado”, disse, fazendo a sua propaganda: “É também assim na monarquia, onde todos são tratados como nossos filhos”.

Maria Alice teve grande participação – junto com a sua filha Letícia – na realização de muitas outras realizações, como a criação do Instituto Carlos Lindenberg que atua na área de promoção social, desenvolvimento humano, assistência social, educação e cultura. Entre os projetos mais expressivos que contaram com a participação do instituto, estão o “Gazeta na sala de aula” (premiado pela Associação Mundial de Jornais - WAN-IFRA) e os da Ação Global (promoção da cidadania e oferecimento de serviços à população) e Criança Esperança (de apoio a organizações sociais escolhidas pela Unesco), promovidos pela Rede Globo com o suporte da Rede Gazeta.

Era Maria Alice, também, que organizava os eventos mais expressivos da Rede, como as comemorações de aniversário da empresa em 11 de setembro que geralmente incluía uma grande festa com a participação de todos os colaboradores. Essa participação não se dava apenas na festa, mas também no planejamento e na organização, o que a tornava ainda mais próxima de todos.

Maria Alice era assim, atuante, participativa, guerreira, companheira, sempre acessível a quem dela dependia. Era dela a palavra mais amiga e solidária dos nossos momentos difíceis. Era dela o “bom dia” mais caloroso de todos os dirigentes da empresa. Era dela o melhor dos incentivos que recebemos na nossa vida profissional. São todas essas lembranças boas de se guardar no fundo do nosso coração.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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